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Crônicas da Vida Real: A escápula estressante

Por:David Marinho*

Um casal mudou-se para um condomínio composto de casas de madeiras geminadas, ou seja, casas com as paredes divisórias comuns e coladas a cada domicílio, numa espécie de vila. Já na primeira noite o casal percebeu que teriam problemas com um de seus vizinhos, pois o mesmo era descendente de nordestinos e gostava de embalar-se em uma grande rede (baladeira), que como prova disso era os ruídos enervantes e estressantes das escápulas enferrujadas sem lubrificação que se ouvia a quase um quarteirão, e atormentavam os novos moradores daquele residencial popular.

O casal, depois de algumas semanas tentou se acostumar com aquela tortura chinesa, mas não foi possível. Então o marido tomou coragem e foi educadamente implorar ao vizinho pentelho, para que lubrificasse as escápulas de sua rede para que ele e sua esposa pudessem ter um pouco de paz e dormissem tranqüilos. Mas o vizinho era daquele tipo de indivíduo provocador mesmo, pois não deu ouvido ao pedido feito, alegando que a casa era seu domicílio e a rede era sua, portando, poderia fazer o que quisesse, e pronto! Além de, quando soube do incômodo que causava ao novo inquilino aí que sacaneou mesmo, botando areia nas argolas das escápulas. E ainda foi prosar com sua esposa dizendo que os vizinhos que se “ferrassem”, pois ele não estava nem aí para eles, tendo aprovação de sua cara-metade com um largo sorriso irônico no rosto...

O vizinho incomodado voltou triste para sua residência e queixou-se para a esposa, que o sofrimento ia continuar. Até pensaram mudar de local, mas como a casa era próximo ao seu trabalho, decidiram dar tempo ao tempo e ver como ia ficar aquele inferno, e passaram a dormir com os travesseiros sobre os ouvidos.

Os anos passaram e nada como um dia atrás do outro, foi quando o vizinho chato, se converteu a uma religião cristã, e pelas pregações dos pastores e bispos descobriu que, o que estava fazendo com seu vizinho era uma verdadeira judiação e, portanto, um grande pecado podendo inclusive cair no colo do Diabo no quinto dos infernos. Já que se lembrou dos ditos bíblicos que dizem; “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, e “Aquilo que o homem semear, isso também colherá”...

Arrependido de tudo que praticava até então e solícito em reparar a sacanagem que vinha fazendo, mas com vergonha de se desculpar com seu vizinho, comprou uma grande lata de graxa, e para ficar bem macia misturou com vaselina e lambuzou todas as escápulas de sua casa, até a da redinha do seu “macaco-prego” (naquele tempo tinha-se o hábito de se criar animais silvestres em casa), agora é crime contra a fauna.

Achando-se aliviado e com a alma lavada, sentindo-se já salvo pela sua boa ação, passou a noite embalando-se na varanda na dita rede, antes torturante, só para comprovar que a mesma estava macia e silenciosa...

No outro dia bem cedo, lá estava em sua porta o vizinho que se queixava do ruído das escápulas, com a cara toda contraída mostrando que passou a noite em claro sem dormir, e tinha vindo tomar satisfação o porquê daquele silêncio mortal que lhe incomodou a noite toda, e ao mesmo tempo implorava que queria novamente os ruídos das escápulas, já que passaram a gostar da zoada e agora lhes pareciam “cantiga de ninar”!

O outro vizinho sem entender nada, aproveitou para pedir desculpas pelo acontecido anteriormente e justificou que tinha lambuzado as escápulas com graxa para que não mais o incomodassem... O visitante se mostrou irritado e violento chutando o portão, exigindo para que as escápulas voltassem a fazer barulho, justificando que depois de três anos ouvindo seus ruídos, já tinha se acostumado juntamente com sua esposa, e esbravejou alegando que aquilo já era um “direito adquirido”, e com aquele silêncio tétrico não conseguiria mais dormir em paz...

Moral da estória: a dinâmica humana físico-biológica se adapta às circunstâncias, portanto; “o homem é produto do meio em que vive”.

*É Gestor Ambiental

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