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Caso Bunge – Cientistas do “Evandro Chagas” pesquisam água e doenças em Barcarena

Flagrante de uma bomba despejando soja estragada em um rio de Barcarena. 

Bomba despeja soja estragado em um rio de Barcarena
Diante da grande repercussão das denúncias feitas por ribeirinhos de Barcarena, na região do Baixo Tocantins, contra a multinacional Bunge, pesquisadores do Instituto Evandro Chagas estiveram no município na última segunda-feira e coletaram amostras de água do Furo do Arrozal para exames. 

Em reunião com lideranças e moradores das comunidades atingidas pelas atividades de transporte, armazenagem e exportação de soja da Bunge, os agentes do IEC ouviram os relatos sobre as doenças que afetam grande parte da população local e encaminharam um relatório à direção do órgão para decidir sobre a realização de uma campanha de amostragem para coleta de sangue, urina e cabelo, a fim de identificar as causa e os tipos de doenças.

“Vamos fazer comparativos do material que será colhido com outros exames que foram feitos durante os últimos quatro anos na região e avaliar a dimensão do problema”, disse o médico Marcos Mota, explicando que nesta primeira visita eles não tinham estrutura para coletar amostras das pessoas. “O Evandro Chagas é sensível às solicitações da comunidade para tentar elucidar as questões que ocorrem e prejudicam as pessoas, mas temos que conhecer os problemas para organizar os trabalhos”, prosseguiu Mota.

Para o trabalho de coleta de material humano o Instituto precisa montar uma equipe completa, com médicos, enfermeiros e técnicos. Além de Mota, formaram a equipe os químicos Kelson Faial e Amilton Costa e a bióloga Samara Pinheiro. Um dos relatos que os pesquisadores ouviram foi do pescador João Baia, pai da adolescente Taiane, de 13 anos, que sofreu dores abdominais, tontura, falta de ar, dor de cabeça e desmaios.

Há uns 10 dias ela desmaiou e bateu o rosto no chão, ficando bastante machucada. Segundo o pescador, o fato ocorreu depois que uma barcaça da Bunge carregada de soja estragada ficou ancorada na frente da casa dele, no Furo do Arrozal, durante um mês. Como o odor da soja apodrecida ficou insuportável, o fato foi comunicado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). De acordo com as lideranças comunitárias, quando a Bunge soube que haveria fiscalização determinou que a soja fosse despejada no rio. Ainda assim os técnicos da Semas encontraram um grande parte da soja estragada na embarcação.

Estranho – Os pesquisadores do Evandro Chagas também pediram desculpas, em nome do Instituto, alegando falta de comunicação, por não terem atendido antes o pedido de providências feito pelos moradores e lideranças comunitárias no ano passado e estranharam a ausência do Ministério Público Estadual e das secretarias estadual e municipal de Saúde na reunião e no processo. “O Evandro Chagas age em toda a Amazônia e geralmente atende recomendação do Ministério Público, mas desta vez o órgão não está presente, assim como as duas secretarias de Saúde, estadual e municipal, não sabemos por que”, disse Marcos Mota.

O pesquisador Kelson Faial informou que no momento só poderia coletar amostras de água do Furo do Arrozal, mas garantiu que a equipe multidisciplinar do Instituto deve ser formada o mais rápido possível. Os pesquisadores seguiram de barco pelo Furo do Arrozal até o local onde havia uma barcaça ancorada e coletaram água. Em seguida retornaram a Belém.

O representante do Conselho Tutelar de Barcarena, Adenilson Araújo, participou da reunião e disse que também procurou o Ministério Público para pedir providências urgentes a fim de resguardar os direitos das crianças e adolescentes que estão sendo afetados pela atividade da Bunge em grande número.

Cientistas do Evandro Chagas pesquisam água

MORADORES DA FAZENDINHA PROTESTAM CONTRA OMISSÃO DE AUTORIDADES E FECHAM ESTRADA

Os movimentos populares ligados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) continuam bloqueando um dos ramais usados por empresas terceirizadas da multinacional Bunge, impedindo o transporte de combustíveis que abastecem os empurradores que conduzem as imensas barcaças no transporte de soja.
A decisão de fechar o ramal, localizado dentro do assentamento Fazendinha, com barricada de pneus, foi tomada depois das lideranças terem encaminhado vários pedidos de providências aos órgãos públicos estaduais e federais, como Ibama, Sema, Secretaria de Saúde (Sespa) Instituto Evandro Chagas e Ministério Público Estadual. Depois da publicação das denúncias, apenas o Instituto Evandro Chagas esteve na comunidade para dar explicações e fazer a coleta da água do rio, próximo do local onde estão as barcaças ancoradas.

A Bunge, multinacional do ramo de alimentos, se instalou em Barcarena em 25 de abril de 2014 e desde então os moradores das redondezas, a maioria ribeirinhos, perdeu o sossego por causa das atividades da empresa, cujo porto, na Vila do Conde, comprovadamente foi construído apara receber uma quantidade bem menor de soja do que recebe atualmente.

“São cerca de 600 carretas e 100 barcaças de soja que chegam por mês a um porto que não foi preparado adequadamente para receber tanta carga, por isso, os problemas começaram a aparecer e as barcaças começaram a atracar por toda a extensão do rio Arrozal, arrancando a vegetação do mangue e a mata ciliar”, afirma Bosco Oliveira Martins, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf).

Donos – De acordo com Bosco, também não houve preparação das estradas para receber o tráfego intenso das carretas da multinacional. “Eles usam as estradas e todos os ramais como se fossem donos, não respeitam ninguém e destroem o que restou de asfalto e de ruas, além de impedirem que os agricultores trafeguem de motos, bicicletas e carroças para escoarem a produção”, afirma.

No caso das mortes de dois pescadores e uma dona de casa e a denúncia de contaminação de mais de 200 moradores ribeirinhos, atribuídas ao transporte e armazenamento de soja e seu despejo no rio, na região do porto, somente um exame mais aprofundado poderá determinar as causas. Os ribeirinhos acusam órgãos de fiscalização de não aparecerem em Barcarena para apurar o que é denunciando, deixando as famílias à mercê do descaso e da arrogância da Bunge.


“NUNCA HOUVE RELATO DE NENHUMA QUESTÃO DE SAÚDE SIMILAR’, AFIRMA MULTINACIONAL

A multinacional Bunge afirma não existir qualquer relação entre os problemas de saúde citados pelos ribeirinhos e a operação do terminal de cargas dela em Barcarena. Segundo a empresa, nos 10 terminais portuários onde ela opera no Brasil, incluindo em dois dos maiores portos do país – Santos e Paranaguá – onde há densidade populacional maior do que na região de Barcarena, “nunca houve relato de nenhuma questão de saúde similar”. E sustenta que desde o início das obras do terminal, em nenhum momento, a Bunge ou a Unitapajós – empresa criada para o transporte da soja de Miritituba, em Itaituba, para Barcarena – receberam relatos de problemas de saúde da comunidade do furo do Arrozal.
A cada 15 dias, no máximo, prossegue a multinacional, a Unitapajós realiza visitas à comunidade local e nunca não foi informada sobre esses casos, tampouco foi notificada pela Secretaria Municipal de Saúde. Ambas empresas desconhecem a relação entre essas questões e as operações com a barcaças ou no terminal, mas diz que, de toda forma, já está buscando apurar junto às lideranças da comunidade o que pode estar ocorrendo.

A operação de transporte de soja por barcaças, que ocorre pela hidrovia Tapajós-Amazonas, é realizada pela Unitapajós, empresa parceira e prestadora de serviços logísticos para o Terminal Fronteira Norte (Terfron). “A Unitapajós possui uma autorização provisória da Marinha para abarrancar as barcaças na região do furo do Arrozal e está com um projeto em andamento de fundeio definitivo, eliminando, assim, qualquer possível impacto nas margens”, relata a Bunge.

Ela informa que está acompanhando de perto as ações da Unitapajós para solução do problema o mais rapidamente possível, destacando que a região do furo do Arrozal possibilita o fundeio seguro das barcaças, sem prejuízo à navegabilidade do rio pela população local ou a sua utilização pelos ribeirinhos. Por isso, é eventualmente utilizada pela empresa para esse fim, quando necessário, para garantir a segurança da operação do Terminal.

Aprovado – Ao negar o despejo de soja no rio, a Bunge esclarece que a soja é um ativo da empresa e, por isso, precisa ter seu destino rastreado em caso de perda o Além disso, acrescenta, as barcaças utilizadas para transporte da soja pela hidrovia são totalmente fechadas, com cobertura metálica rígida e sem equipamento de descarga acoplado. “Isso significa que é impossível desembarcar as 2000 toneladas de soja, que cada barcaça comporta, sem que exista um equipamento específico (sugador)”.

Ao contrário, quando é necessário, é contratada uma empresa especializada para realizar o descarte adequado do produto. Sobre o fluxo de caminhões e barcaças na região, a empresa garante é adequado à capacidade projetada para a operação do Terminal e foi “devidamente aprovado pelas autoridades municipais, estaduais e federais”.

Exibida: 7 de junho 2015 as 10:43 pm

Fonte: Carlos Mendes

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