Jurista Luiz Flávio Gomes lança livro sobre protestos massivos de junho
O jurista Luiz Flávio Gomes lança este mês o livro Por que estamos indignados? Das barbáries dos poderes à esperança de civilização, justiça social e democracia digital, pela Editora Saraiva. A obra versa sobre o país onde vivemos, que é marcado pelo apartheid socioeconômico (divisão, segregação, balcanização), pela lógica da guerra civil e pela dialética da malandragem (Antonio Cândido), que é a mãe da nossa enraizada corrupção.
O livro também retrata as peculiaridades de um momento histórico para o país – os protestos massivos de junho, quando o povo brasileiro saiu em massa às ruas em busca de novos valores, nova cultura, nova democracia, nova governança.
Abaixo, um trecho retirado do livro
Por que estamos indignados?
O Brasil tem seu lado vitorioso. Existe o Brasil que deu certo. Nas três últimas décadas, por exemplo, alcançamos três impressionantes conquistas: (a) movimento das diretas-já, em 1984, que sepultou a ditadura militar e restabeleceu a democracia, legando-nos a Constituição de 1988; (b) o Plano Real, iniciado em 1994, que venceu a inflação e estabilizou a moeda e também os referenciais econômicos; (c) o programa de inclusão social e a luta contra a miséria, que se transformaram em política de Estado em 2002 (essa iniciativa, de acordo com o IDHM, da ONU, contribuiu para o Brasil crescer, de 1991 a 2010, 47,5%, em média, nos itens “expectativa de vida”, “renda per capita” e “matriculados em escolas”). Essas mudanças aconteceram sob a batuta de grandes lideranças políticas do MDB, PSDB e PT, respectivamente. São pontos positivos para o Brasil que deu certo, para o Brasil civilizado.
Paralelamente, existe também o Brasil que deu errado ou que ainda não deu certo: o Brasilquistão. Alguns de seus pilares são: (a) apartheid (divisão de classes totalmente discriminatória, fundada em desigualdades aéticas), (b) guerra civil (violência epidêmica), (c) ineficientismo do Estado, (d) representação política ilegítima e desastrada e (e) “dialética da malandragem” (Antonio Candido), que é a mãe da corrupção.
Diante do que relatamos, nossos próximos cinco grandes desafios, sem prejuízo da manutenção do que já foi conquistado, cujos líderes à época não sabemos quem serão, são os seguintes: (a) combater nosso apartheid socioeconômico por meio da educação de qualidade como política nacional prioritária em tempo integral, das 8 às 18h, obrigatória até aos 18 anos, criando igualdade de condições e de oportunidades para todos; (b) enfrentar a questão da violência/segurança pública, com o firme propósito de acabar com nossa discriminatória guerra civil, levada a cabo pela polícia militarizada; (c) cobrar maior eficiência do Estado para melhorar a qualidade dos serviços públicos nas áreas de saúde, transportes, justiça etc.; (d) digitalizar e revitalizar a velha democracia representativa (criando o Fórum Cidadão, para a implantação da democracia direta digital); e (e) atacar a endêmica corrupção em suas raízes, difundindo o ensino da Ética para todos os habitantes do país.
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar” (Antonio Machado). Enquanto houver esperança de mudanças, nossa mobilização nas ruas e nas redes sociais não pode cessar, nem agora, nem nunca, até conseguirmos eliminar das entranhas do Brasil que deu certo as barbáries do Brasil que deu errado. Barbárie ou civilização: eis a questão!
Cristiane Batista/Assessoria de Imprensa
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