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Não vamos nos lembrar de Remember Me por muito tempo


Jogo não é inovador, mas pode agradar fãs do gênero. Veja o nosso review. O nome do primeiro jogo do estúdio francês Dontnod tem um tom de apelo: Remember Me. Lembre-se de mim. Quase no fim de uma geração, com tantos e tantos jogos de altíssima qualidade sendo lançados a cada semana, jogamos muito e guardamos muito pouco do que jogamos. É realmente muito difícil, sobretudo para um estúdio iniciante, fazer um jogo capaz de se destacar a ponto de evitar o limbo das experiências efêmeras.

Infelizmente, a Dontnod não conseguiu fazer isso. Remember Me não é, de forma alguma, um jogo ruim. Ele é bonito, tem momentos verdadeiramente inspirados e uma ambientação interessante. Mas não consegue ser um jogo memorável. É mais um daqueles que nos esquecemos poucos dias depois de ver os créditos rolando.

Bonitinho, mas meio pedante

Antes de mais nada, Rembember Me é um jogo lindo. O senso estético da Dontnod é impressionante, e isso fica claro tanto em menus e interfaces surpreendentemente bonitos e funcionais quanto na distópica cidade de Neo Paris, em que a aventura se passa.

A maravilhosa trilha sonora de Olivier Deriviere acompanha muito bem toda a beleza dos cenários. O resultado é um jogo que podeira ser exposto numa galeria de arte, mesmo não tendo os melhores gráficos do momento. Algumas das mais belas situações do jogo acontecem quando a câmera passeia por Neo Paris em panoramas que deixariam muitos cineastas com inveja.

E por falar em cinema, vale notar que a história de Remember Me poderia facilmente virar roteiro para um filme hollywoodiano – mas um daqueles dirigido por algum francês meio pretensioso que só se preocupa em ganhar o Globo de Ouro, não o Oscar.

Misturar ação e pancadaria com crítica social raramente dá certo. Matrix conseguiu, Deus Ex também. Remember Me não. O jogo tenta criticar nossa dependência por redes sociais criando uma distopia em que as pessoas podem compartilhar, apagar e reviver memórias a qualquer momento. Isso, obviamente, gera vício e dependência na sociedade, e a empresa que criou a tecnologia usada para manipular memórias acaba se tornando mais poderosa do que qualquer governo.

A ideia é boa – e muito bem contextualizada através de diários que contam a história desse futuro bizarro –, mas acaba sendo mal aproveitada durante o jogo. Se perde no meio da ação, da pancadaria e de algumas falas tão bregas que chegam a causar vergonha alheia. “Essa Chapeuzinho Vermelho tem um cesto cheio de PORRADAS” é apenas um dos piores exemplos.

Nilin, a protagonista, também é parcialmente culpada pela irrelevância das críticas sociais de Remember Me. Ela é uma “errorista” (é sério, eles usam esse nome), uma ativista que luta para destruir o domínio da corporação que controla as memórias da população. Mas seus dramas pessoais acabam, ao longo da história, se tornando ponto focal da narrativa.

No fim do jogo, mal nos lembramos porque estamos lutando. Vamos na onda da heroína, e seja o que Deus quiser.

Um jogo como mil outros

Os principais problemas de Remember Me, no entanto, não estão na sua narrativa. Eles começam a dar as caras mesmo quando percebemos a falta de criatividade das suas mecânicas.

O elemento mais cativante apresentado pela Capcom e pela Dontnod quando estavam divulgando o jogo era a possibilidade de remixar memórias, em forma de puzzles no melhor estilo Ghost Trick de ser. E isso realmente ficou divertido e interessante no resultado final. Infelizmente, remixar memórias é o que menos fazemos durante a jogatina. Mais especificamente, fazemos isso quatro vezes durante as cerca de 12 horas necessárias para terminar o jogo. O elemento mais criativo e impressionante de Remember Me é também o menos aproveitado.
De resto, temos escaladas e pancadaria. A escalada é funcional, e nada mais. Não é livre e aberta à exploração, como em Assassin’s Creed, nem tensa e emocionante, como em Enslaved ou Uncharted. Ela cumpre o papel de te levar do ponto A ao ponto B através dos belíssimos cenários da Neo Paris. Nada Mais.

A pancadaria não consegue ser muito melhor. Apesar de trazer ótimas ideias, como golpes que curam sua vida ou diminuem o tempo de recarga dos seus poderes especiais e um laboratório de combos que permite a você ordenar esses golpes da maneira que quiser, no fim das contas, ela acaba ficando repetitiva e enfadonha em pouco tempo. A variedade de inimigos é bastante limitada e a necessidade de apertar botões numa ordem específica nos obriga a lembrar, o tempo todo, que estamos com um controle nas mãos.

Nem mesmo os golpes especiais e super poderes de Nilin, que vão sendo liberados conforme ela recupera suas memórias, conseguem nos livrar da repetitividade. Eles acabam se tornando uma forma de acabar com a pancadaria mais rápido, e não algo divertido que você usa para deixar as coisas mais emocionantes.

Nas horas finais do jogo, estava tão cansado das mesmas lutas com os mesmos inimigos, que não fazia nada além de apertar X o mais rápido possível. O último chefão do jogo, como todos os anteriores, envolvia um ritual cansativo de atacar capangas até seus poderes especiais estarem carregados, usar o poder certo e bater no chefe meia dúzia de vezes. Confesso que morri algumas vezes, por puro desânimo de cumprir essas etapas.
Remember Me

Remember Me, no fim das contas, se torna aquele jogo que você indica para quem sabe que vai gostar do gênero bate/escala de God of War ou Assassin’s Creed. Infelizmente, o maior erro da Dontnod foi manter-se na zona de conforto.
Caso Remember Me se arriscasse mais em suas experimentações, extrapolando o que vemos na narrativa e na estética para elementos verdadeiramente interativos, talvez conseguisse se tornar a experiência memorável que pretendia ser. Do jeito que é, vamos nos esquecer dele rapidinho.





Plataforma: PC, PlayStation 3 e Xbox 360

Desenvolvimento: Dontnod Entertainment

Distribuição: Capcom

Lançamento: 3 de junho de 2013

Preço: R$ 149,90

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