A Imagem do Advogado nas Redes Sociais e o Preconceito contra o Preconceito
Outro dia estava lendo um texto na internet em que um advogado contava que uma amiga, que não era do mundo jurídico, havia consultado uma advogada e que um tempo após resolveu procurá-la no Facebook. Todavia, a moça não ficou feliz com o que viu, uma vez que a advogada postava fotos de biquini e em baladas, fazendo biquinhos. Por essa razão, a moça desistiu de contratar a advogada, por tê-la julgado "imatura".
Não obstante, há um tempo deparei-me com uma situação muito parecida. Uma conhecida minha estava procurando uma advogada para fazer seu divórcio e partilha de bens, uma vez que o marido a havia traído com uma menina bem mais nova. A referida menina comumente postava fotos nas redes sociais exibindo seu corpo e fazendo biquinhos. Quando essa minha conhecida, ao adicionar a advogada no Facebook, notou que esta também postava fotos semelhantes, desistiu de contratá-la.
Calma que ainda não acabou.
Semana passada estava conversando com um amigo meu, advogado, e ele me contou que um cliente, empresário, queria contratá-lo para assessorar juridicamente a empresa. Era um contrato bom, de grande valor, e meu amigo estava muito interessado no serviço. Todavia, o cliente desistiu da contratação por ter visto diversas fotos desse meu amigo no Facebook em baladas, com bebidas na mão. O cliente, que era evangélico, julgou não ser o meu amigo o profissional certo para cuidar da empresa dele.
Já estamos cansados de dizer que a imagem do advogado é, sim, de suma importância. Sempre ouço alguns colegas de trabalho refutarem essa afirmativa, alegando que isso é mera futilidade e preconceito. Preconceito ou não, futilidade ou não, nossa imagem é a primeira relação que temos com o cliente.
Muitos dizem que "se livraram de um cliente preconceito". Todavia, como já mencionei no texto Advogado Tatuado... Pode?, eu aprendi a lidar com preconceito e conservadorismo desde cedo. E também desde cedo percebi que muitas vezes o preconceito não é uma má fé, mas uma mera ignorância acerca de algum tema.
É impossível olhar para uma pessoa e não montar mentalmente um imagem desta. É inevitável, faz parte do mecanismo de nosso cérebro, e fazemos isso de forma inconsciente. Essa imagem é montada com base em nossa criação, costumes, crenças, experiências de vida, etc.
Essa primeira imagem, é claro, pode não ser definitiva, e pode ser que venha a mudar com o passar do tempo, quando conhecemos melhor a pessoa, e então fazemos uma outra imagem dela, com base no que, de fato, conhecemos. Isso significa que nossa primeira imagem de alguém era meramente um pré conceito, isto é, uma formação de uma ideia antecipadamente.
Pré conceito, como o próprio nome diz, é um conceito prévio, sem análise dos fatos, um julgamento antecipado.
Preconceito: substantivo masculino. 1. Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico. 2. Sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância. Fonte
De tal forma, denota-se que preconceito é o ato de julgar um ato ou uma pessoa sem previa análise crítica dos fatos. O cliente julgar que o advogado não seja profissional sério ou que seja imaturo por suas fotos é um preconceito? Possivelmente, haja vista que o profissional pode ir para a "balada" com os amigos, e ainda sim ser um excelente profissional, uma vez que não são coisas excludentes.
Todavia, o cliente é sempre o cliente. É uma pessoa (preconceituosa, ou não) que deseja contratar os serviços de um advogado. Desejar pagar para que um advogado interceda a favor de seus direitos. Ora, e não é essa a função tão nobre do advogado, se não dar voz ao direito de outrem?
Da mesma forma que o cliente julga o profissional por uma foto, o profissional também julga o cliente por seus atos, sem antes procurar conhecer melhor os fatos. Tenho a certeza de que muitos, ao lerem este texto, fizeram julgamentos a respeito dos casos aqui narrados, pensando em como os clientes mencionados eram imaturos ou "preconceituosos", e até mesmo afirmativas como "esses advogados se livraram desses clientes".
Ora, mas em nenhum momento aqui se falou a respeito dos motivos que cada um desses clientes teria para pensar de tal forma, ou mesmo das experiências de vida, criação, crenças e cultura de cada um, que o levou a ter tal postura. É errado julgar alguém por uma foto? E também é errado julgar alguém por único ato?
Obviamente o tema é polêmico, e muitos não hão de concordar comigo. Entretanto, é, no mínimo, de se pensar. Já que nós, advogados, trabalhamos com pessoas, devemos saber lidar com pessoas.
E a imagem que passamos a essas pessoas podem ser nosso sucesso ou nossa perdição, a depender de como trabalhamos com isso.
Sendo assim, é prudente que se tome alguns cuidados, em especial nas redes sociais, onde costumamos nos expor de forma tão abrupta e, muitas vezes, inconveniente.
1. É aconselhável ter clientes como "amigos" nas redes sociais?
Isso é muito relativo, e depende muito do profissional. É claro que se você atende um amigo com um problema jurídico, não há qualquer problema em tê-lo, por exemplo, em seu Facebook, já que vocês são amigos mesmo.
Todavia, nem sempre é uma boa ideia ter seus clientes em um perfil de rede social. Isso porque lá possivelmente você posta fotos da sua privada, com amigos, em festas, com a família, etc. Além de ser algo mais íntimo e expor sua vida pessoal ao cliente, pode ser até mesmo perigoso, dependendo da sua área de trabalho. Permitir que seus clientes tenham acesso à sua vida privada de forma tão íntima, como vendo fotos do seu último Natal ou das suas férias na praia, não é aconselhável.
2. Mas eu converso com meus clientes por meio de redes sociais
Nesse caso, uma dica é ter um perfil só para isso. Um perfil profissional, como "Fulana Advogada". Naquele perfil você adiciona seus clientes, e mantém certa distância profissional, podendo utilizar-se das redes sociais para manter contato com clientes de forma mais simples e rápida, bem como até para divulgar seu trabalho.
De tal forma, é possível manter um perfil pessoal, onde você possui contato com pessoas mais próximas, como família e amigos, e um profissional, onde mantém contato com clientes e clientes em potencial.
3. Gerenciar dois perfis diferentes dá muito trabalho
Sim, pode dar um pouco de trabalho. E caso isso seja de fato um problema para você, é possível alterar as configurações de privacidade para manter uma distância profissional desejável dos seus clientes.
No caso do Facebook, não é aconselhável que suas publicações sejam públicas. Isto é, quando suas publicações estão no modo "público", qualquer pessoa pode vê-las, mesmo que você não a tenha como "amigo". Isso pode acabar acarretando situações nas quais um cliente em potencial dá uma olhada em sua conta do Facebook antes de contratá-lo, e se depara com aquela foto horrível que seu primo te marcou na última reunião de família, na beira da piscina e pra lá de bêbado.
Não sejamos hipócritas, é claro que o cliente também poderia passar uma tarde na beira da piscina com a família e tomando uma cerveja. A questão é que não é aconselhável expor essa parte da sua vida publicamente, especialmente na advocacia. O cliente encontra-se com algum problema jurídico, e espera ver no profissional a confiança e seriedade que deseja em alguém que iria assisti-lo nesse problema.
Caso você adicione ou aceite seus clientes como "amigos" no Facebook, uma boa dica também é alterar as configurações das publicações para que somente algumas pessoas vejam o que você pública.
No Facebook, por exemplo, é possível configurar quem pode marcá-lo em fotos, quem pode ver as fotos em que você foi marcado, quem pode ver o que você posta em seu mural, e até quem gerenciar o que postam em seu mural, tendo que autorizar o post antes.
Também é possível configurar a privacidade de álbuns de fotografia. Assim você pode colocar um álbum com fotos da sua família e configurar para que apenas algumas pessoas o vejam, deixando os clientes de fora.
Além de manter uma distância profissional adequada, também evita situações de risco. É uma maneira de se manter contato fácil com os clientes sem expor demais sua vida pessoal a pessoas com quem você não possui tanta intimidade.
Enfim, como dito acima, o tema é polêmico. Todavia, é sabido que a imagem do advogado possui uma enorme importância na captação de clientes, especialmente para advogados em início de carreira, que ainda não possuem uma reputação.
Não obstante, expor sua vida pessoal para qualquer pessoa não é aconselhável em nenhum situação, muito menos dependendo da área em que você atue, pois pode até mesmo ser perigoso, como a área criminal, por exemplo.
Claro que uma foto de biquini ou uma foto na balada não significa, em hipótese alguma, que o advogado não seja responsável. Significa apenas que também tem vida social. Entretanto, a sua vida social e pessoal não precisa ser escancarada, principalmente quando se trata de advocacia, na qual muitos clientes esperam um profissional sério e que inspire confiança.
Um pouco de cautela é sempre bem vinda.
O debate é igualmente bem vindo, pois do debate nascem novas ideias, e por meio do debate ampliamos nossos horizontes, desde que haja verdadeiramente a vontade de se ouvir a opinião contrária, e não apenas a de se defender a sua.
Qual a sua opinião sobre a imagem do advogado nas redes sociais e o pré conceitode clientes?
AVISO IMPORTANTE
Este artigo foi originalmente publicado no site Diário da Vida Jurídica - DVJ, de autoria da Dra Camila Sardinha. A reprodução total ou parcial deste texto é autorizada somente mediante a manutenção dos créditos e da fonte original(link aqui). Grata.
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