Stealthing: a nova prática sexual que está colocando a vida de homens e mulheres em risco
Além do risco de contaminação e gravidez indesejada, abuso pode levar homem à condenação de 2 a 6 anos de prisão.
Recentemente, quando falamos sobre o número cada vez maior de jovens brasileiros que não usam camisinha, a recepção geral foi de preocupação. Mesmo com a exposição a DSTs e a uma gravidez indesejada, eles estão optando por assumir o risco em troca de 'mais conforto' na hora do sexo.
Mas as notícias ruins não param por aí. Um estudo publicado na revista científica norte-americana Columbia Journal of Gender and Law dissecou uma nova prática que foi batizada de stealthing. A palavra que significa dissimulação em inglês, serve, nesse contexto, para designar quando um homem tira o preservativo do pênis durante a relação sexual sem que a parceira saiba.
Por ser, supostamente, uma prática recente, é muito comum que mulheres e homens que já passaram por isso não saibam como relatar e, portanto, não há números consolidados de casos denunciados às autoridades. Apesar disso, durante a elaboração do estudo, foi possível coletar milhares de relatos de pessoas que, de repente, disseram: "ei, eu já passei por isso!".
Atualmente, existe um único caso registrado de condenação por stealthing. Após conhecer um homem pelo Tinder e ter relações sexuais com ele, a mulher percebeu que ele tinha tirado a camisinha durante o sexo e o denunciou à justiça da Suíça. O caso foi julgado em janeiro de 2017 e o agressor foi enquadrado na pena por estupro.
No Brasil, a legislação ainda não faz alusão a esta prática especificamente, mas a promotora de justiça Gabriela Manssur, do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID), afirmou em entrevista ao portal VIX que tal ato é contemplado nos artigos 130, 131, 132 e 215 do Código Penal por configurar "crimes de relação consensual mediante fraude, perigo de contágio venéreo, moléstia grave e perigo para a vida ou saúde de outrem." Já a advogada Marina Ruzzi, do escritório Braga & Ruzzi, especializado em advocacia para mulheres, quando consultada pelo Nexo, afirmou que é difícil enquadrar o crime como estupro pela legislação brasileira, mas concordou que através de artigo 215 do Código Penal, o agressor pode ser condenado de dois a seis anos de prisão.
O estudo que ganhou grande repercussão na internet e incitou o diálogo sobre a ética nas relações sexuais tinha como objetivo nomear a prática e ajudar as vítimas a saberem dizer pelo que elas passaram. Segundo a advogada autora do estudo, Alexandra Brodsky, esse seria o primeiro passo para que a legislação avançasse e protegesse às mulheres.
Mas qual foi a sua surpresa ao se deparar, durante a pesquisa, com fóruns onde homens não só relatavam essa prática como incentivavam e davam dicas de como tirar ou furar a camisinha sem que sua parceira percebesse... São lugares onde os homens defendem a misoginia e a supremacia masculina colocando o stealthing como um instinto e como um 'direito básico masculino'.
Destes locais foi possível tirar frases como "é o direito de um homem gozar dentro de uma mulher" e "espalhar a semente é um direito que nunca lhe deve ser negado".
Porém, além das justificativas sexistas, não foram poucas as mulheres que ouviram como 'desculpa' dos homens o "medo de perder a ereção", o que nem de longe serve de justificativa, mas escancara um problema que nós do PdH já falamos há tempo: os homens estão morrendo (e matando!) porque não conseguem falar!
Nós sabemos que o diálogo pode ser difícil de criar, mas ele tem se mostrado o caminho mais efetivo na tentativa de resolver as angústias e as crises masculinas. Criar um canal de comunicação permanentemente aberto e franco com sua/o parceira/o é uma das melhores coisas que você pode fazer pela sua saúde mental e das pessoas ao seu redor, mas não é fácil.
O caminho para resolver conflitos como os que levam os homens a tomarem a atitude unilateral de retirar o preservativo por falta de confiança na sua própria ereção é admitir que existe um problema e tentar solucioná-lo da maneira mais adequada. A partir daí, sugerimos alguns caminhos, para cultivar uma masculinidade mais saudável. Nas palavras de Luciano Andolini no texto "As 25 maiores crises dos homens":
1. Cultive uma rede: batemos bastante nessa tecla. Já falamos sobre cultivar relações de parceria em outros momentos e vale reforçar que quando você tem amigos, familiares, enfim, pessoas interessadas no seu florescimento humano, essas dificuldades diminuem.
2. Procure ajuda profissional: nem todo mundo tem esse acesso a psicólogos, médicos, especialistas, mas é sempre bom reforçar (principalmente para homens, que tem um histórico de não procurar essas ajudas). Isso não é jogar dinheiro fora, é um dos melhores investimentos que você pode fazer e não há nada de errado nisso. As pessoas buscam ajuda quando precisam, por que você seria diferente?
3. Procure por quem já passou pela situação: nem sempre a pessoa vai ter um caminho que vai funcionar pra você, então, vale o senso crítico. Mas às vezes, vai ter algo que só quem sentiu na pele o seu problema vai poder auxiliar.
4. Cultive estabilidade, sabedoria e compaixão: você não precisa passar por todos os problemas do mundo para ter uma vida mais lúcida e estável. Há a sabedoria humana acumulada em milênios de história. De fato, a maioria das nossas questões e problemas pessoais são muito comuns, não têm nada de especial. Logo, podemos nos ancorar nisso, entender a fundo como nossas emoções se dão, de que forma construímos nossa identidade, como nos aprisionamos nela e, paralelamente, como ajudar os outros.
Essas ações podem ser cumulativas. Na verdade, é melhor que sejam, já que elas ajudam umas às outras. Com uma rede forte, vai ser mais fácil chegar a um especialista. Estando mais estável, você vai atuar com mais clareza e chegar a boas soluções.
Dessa forma, acreditamos que podemos desconstruir comportamentos tóxicos e ajudar tanto os homens quanto as mulheres que se relacionam com eles.
Fonte: Papo de Homem
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