César Dias: “Apesar de viagens à Alemanha, soluções sobre lixo não avançam”
César Dias
Para o empreendedor socioambiental, criar cooperativa de catadores em Santarém é um desastre absoluto, porque tem dedo político dentro dessa questão. César diz que Aterro do Perema é mentira, é um lixão, é aterrorizante, é uma piada!
O empresário César Dias que sempre atuou na área de resíduos sólidos, tem um projeto há 7 anos que trata dessa questão “Lixo não enche o saco”, que trata do zelo pelo meio ambiente, dá oportunidade de renda para aqueles quem aderem a esse procedimento de valorizar o meio ambiente e ao mesmo tempo transformar lixo em uma fonte de renda.
“O projeto “Lixo não enche o saco” é de empreendedorismo socioambiental. Nosso trabalho é independente, não temos apoio público, esse projeto cria trabalho social, gera renda na economia e estimula o consumo consciente do ambiental. Ensinamos a separar material reciclável, comercializar, e fazer a gestão. O projeto oferece possibilidades de geração de renda através: horta, compostagem, minhocário, sabão em barra, sabão líquido, limpa alumínio, vassouras de pets e outras. É um projeto bem bacana, feito com muita satisfação e também com muito suor. Na verdade, eu venho de uma família onde a gente já teve educação diferenciada na questão de separação prévia de material reciclável, o lixo orgânico nosso ia para compostagem, ia pra horta e etc. Meu pai nunca permitia que trouxéssemos saquinhos do supermercado, tudo vinha em caixa de papelão porque se transformava em adubo. Aplicar o projeto foi mais difícil, em função de três aspectos: em primeiro lugar, a desinformação das pessoas com relação ao lixo ou ao material reciclável existente dentro do lixo; segundo lugar, o preconceito, porque a gente cresceu, por exemplo, eu e você que a gente já passamos dos 40, tinha aquela coisa de desobedecer nossa mãe e o nosso pai e dizer: ‘Olha, o velho do saco vai te levar’, que era o catador, então, essa figura pejorativa e negativa da pessoa que trabalhava ali, antigamente chamava sucateiro, era uma coisa para aterrorizar crianças. Hoje não, hoje tem catador aqui em Santarém, na nossa Pérola do Tapajós, que eu espero que um dia seja Pérola mesmo de verdade. Essa questão de resíduos sólidos, o nosso projeto estima que a gente tenha pelo menos 1.500 pessoas que trabalham recolhendo material reciclável pra vender, usando isso em grande parcelas como fonte de renda efetivamente e outras parcelas como o “bico”, porque às vezes, tem muita gente que bagunça comigo me chamando de reciclador, de catador, essas coisas todas, mas não me sinto ofendido, porque eu entendo o seguinte, o projeto que trabalhamos, a ideia que desenvolvemos dentro das comunidades, dentro dos bairros, é moderna, exeqüível e necessária. Por que a gente tem dificuldades nessa questão? Porque o poder público, digamos assim, não tem o menor interesse em atender a política nacional de resíduos sólidos. Essa política nacional estabelece três coisas fundamentais: primeiro, obriga o gestor público a reconhecer o material reciclável existente no lixo como gerador de cidadania, emprego e renda; ela obriga o gestor público a dar informação, convidar a participação da população nas políticas públicas de que conferem a questão dos resíduos sólidos; e o terceiro e mais importante, é criar cooperativa de catadores, o que em Santarém é um desastre absoluto, porque tem dedo político gigantesco dentro dessa questão”, disse César Dias.
ATERRO DE PEREMA
Ao pronunciar se existe cooperativa dentro do chamado Aterro do Perema, César Dias foi enfático: “Aterro do Perema é mentira, é um lixão, é aterrorizante, como o desrespeito é tratado dentro daquele lixão. Você pega dois governos atrás, eles fizeram um trenzinho da alegria e foram para Alemanha pegar novas ideias. O que resultou dessas novas idéias da Alemanha? Nada! Absolutamente nada! De 2012 pra cá o dinheiro que saiu das ideias dos alemãs foi para fazer um galpão mal e porcamente. Se você está achando que não é verdade, vá lá e peça para entrar no Lixão do Perema, peça para saber lá dos catadores quando a Prefeitura fez o trabalho de educação ambiental, peça para saber dos catadores quando que a Prefeitura fez o trabalho de empreendedorismo socioambiental, peça para os catadores pra saber quantas oficinas de geração de trabalho emprego e renda eles tiveram para reutilizar e reaproveitar o Lixão do Perema. O que muitas vezes é feito lá, é arte, mas essa arte tem problema grave. Qual é o problema grave da arte? Ela perdeu o encanto, ela vira lixo. Por exemplo, você pega uma garrafa pet, coloca a cola e você complica a vida dessa garrafa pet pós uso. Então, assim é o Lixão do Perema, é uma piada. As audiências públicas que tiveram aqui, eles nunca convidaram ninguém, absolutamente ninguém. Existe um Conselho Municipal do Meio Ambiente, eu fui nesse Conselho, o que é que a Secretária de Meio Ambiente fez foi mostrar na lei que ela podia ser também a gestora do Conselho Municipal de Meio Ambiente. Pergunto para você, que é da área de comunicação, quantas vezes o Conselho Municipal de Meio Ambiente mandou um convite para vocês sobre as atividades deles? Nenhuma. Lhe garanto, nenhuma”, declarou.
COLETA SELETIVA
Pelo que você está dizendo, pelas suas colocações, Santarém não tem coleta seletiva: “Não! O que existe é uma propaganda para bater foto e ganhar dinheiro que vem da Alemanha. Olha, temos a UFOPA, temos outras faculdades particulares, todas elas têm curso na área de gestão ambiental; agora, o poder público municipal mantém uma equipe nessa questão dos resíduos sólidos que está desde 2012 sem fazer nada, já viajaram pelo Brasil, viajaram pela Alemanha, eles estão fazendo turismo com nosso dinheiro e você não vê capacidade criativa dessa equipe para atenuar a questão dos resíduos sólidos, você não vê eles falarem que você pode fazer isso, você pode fazer aquilo; eles só fizeram uma cartilha. É difícil, por exemplo, nós temos uma Secretária Municipal do Meio Ambiente que é gestora do Conselho Municipal do Meio Ambiente, a gente não vê nada na Secretaria Municipal do Meio Ambiente na questão dos residuos sólidos efetivamente e a gente não vê nada no Conselho Municipal de Meio Ambiente, o que se perde muito. Eu vou lhe dar um exemplo prático, a garrafa Pet de 2 litros com tampa sem amassar é comprada a 20 centavos a unidade; cada 100 garrafas Pet de 600ml, 1 litro, 1 litro e meio elas são compradas a R$ 20, então, assim você não vê o interesse da gestão. A gente está falando da Secretaria de Meio Ambiente, que é responsável por isso”, alertou.
MATERIAL RECICLÁVEL
Sobre esse material que é adquirido ao preço acima mencionado, César Dias disse o seguinte: “O meu projeto não compra esse material, mas temos várias empresas que compram. Vou aproveitar para falar o que é mercado, por exemplo, o óleo doméstico é comprado lá na região Centro-oeste a 90 centavos o litro, só que nós temos um problema de logística, então, todo óleo que nós recolhemos vira sabão nos bairros onde a gente trabalha e vira dinheiro naturalmente. O que se compra? Chapa de raio-x que muita gente acha que não tem utilidade, mas tem utilidade, ela tem valor de mercado; você tem o ferro, ele é barato, mas tem valor de mercado também, é pesado e você paga em média 12 a 15 centavos o quilo; você tem papel branco de escritórios que também tem mercado; bem como o papelão que também tem mercado. Na questão do papelão, por exemplo, aquela caixa de 30 dúzias de ovos é comprada a 75 centavos aqui. Eu estava em Belém, e viajei 15 dias nas cidades a convite e tive oportunidade de apresentar o nosso projeto para 40 secretários municipais de meio ambiente. Eu quero aproveitar e agradecer ao Fórum Permanente, na pessoa do Orlando, em Belém, a todo o pessoal, consórcio integrado município paraense. O que aconteceu nessa minha andança? Eu precisei ir até uma rede de supermercados comprar uma caixa de papelão, para minha surpresa qualquer caixa de papelão nessa rede de supermercados em Belém custa R$ 2. Detalhe, eles te dão nota fiscal. Então, o que precisamos hoje é trabalhar essa questão da política nacional de resíduos sólidos de forma séria e responsável. Isso não existe aqui em Santarém. O que precisamos hoje é que esses representantes políticos, que pleiteiam ser Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador, precisam trabalhar para que o estado do Pará tenha uma lei que não sobretaxe o material reciclável. Goiânia, no estado de Goiás, não cobra o material reciclável. Somos uma empresa, com uma visão empresarial e entendemos que precisamos de políticas públicas sérias, capacidade criativa das equipes, das pessoas que são responsáveis. Eu não faço aqui questionamento pessoal, o que eu estou fazendo aqui é uma observação, um desabafo dentro da necessidade que temos de manter a cidade limpa e ao mesmo tempo de gerar renda. Eu quero que as pessoas entendam que não custa nada tomar um iogurte e lavar a embalagem antes de descartar, ao fazer isso ajuda lá na frente, por uma razão muito simples, quando esse resíduo que não é reciclável chegar lá no lixão do Perema no caso de Santarém especificamente falando, você ajuda reduzir o impacto de proliferação de fungos, vírus e bactéria. Então é interessante as pessoas atentarem para uma coisa. Não tem coleta seletiva? eu vou separar o meu resíduo assim mesmo; separa entre resíduo seco e resíduo úmido, separa entre material reciclável, material não reciclável, limpa esse material, precisa lavar e passar uma água porque você ajuda a questão dos catadores. Quando o caminhão chega no lixão do Perema, eles vão separar o material como acontece em qualquer lixão no mundo. Se você fizer a separação prévia do material reciclável aqui, na hora que o catador rascar o saco, ele rapidamente vai identificar que ali só tem material reciclável e ele joga, facilita a vida dele, ele abriu aqui e é reciclável, facilita a vida dele otimiza o tempo do catado” finalizou.
Por: Ed mundo Baía Junior
Fonte: Material Reciclável, César Dias, O Impacto
Nenhum comentário
Postar um comentário