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Famosa no exterior, vaquinha virtual começa a movimentar os brasileiros


Internautas tem o poder de financiar produtos incríveis ou ideias bizarras

Ouya, um dos exemplos mais bem sucedidos de financiamento coletivo no mundo
Depois de uma década trabalhando na indústria de games, Julie Uhram decidiu que iria lançar seu próprio videogame. Algo bastante ambicioso. Um console que tivesse um sistema aberto como o Android – o que significa que qualquer programador pode lançar jogos para ele. O conceito contrário ao dos caros kits de desenvolvimento necessários para publicar games nas plataformas da Microsoft, Sony e Nintendo.

Mais do que isso, Julia queria um videogame mais barato que um Playstation 3 ou Xbox 360 – mas com recursos que não o deixasse tão longe assim. Há alguns anos uma ideia tão maluca como esta não passaria da fase de rascunhos (sem falar, das implicações resultantes do fato dela ser um tanto ridícula). A diferença é que isso já aconteceu.

O Ouya é uma referência de um projeto que só se tornou possível graças à internet. Sem ter nada mais do que um projeto, o console embarcado com Android (e feito para ser hackeado) arrecadou 950 mil dólares (algo bem próximo de R$ 2 milhões) em investimentos – tudo isso vindo de uma campanha no site Kickstarter, um dos sites mais famoso deste tipo de serviço.



Rafael Chaves, diretor da plataforma de financiamento coletivo When You Wish no Brasil explica o modelo de negócio que está causando uma revolução nada silenciosa no mercado:

— O financiamento coletivo funciona como uma vaquinha digital. Você arrecada pequenas doações de diversos patrocinadores e dá a eles prêmios em contrapartida. 

Além de livros, discos e videogames, causas de como um resgatar Beagles usados como cobaias em laboratórios de pesquisas também estão acontecendo. Esse modelo de negócios dá liberdade ao consumidor patrocinar e até dar alguns pitacos na produção. Algo como “poder do povo 2.0”, em alusão à canção de John Lennon.

A vaquinha chegou ao Brasil

Lançada no Vale do Silício, a When You Wish é só um dos serviços do tipo que já estão disponíveis no Brasil. A plataforma abriga projetos que vão da filantropia até o financiamento de projetos pessoais. Lá fora celebridades como Will Smith e Mike Tyson já tiveram seus projetos financiados pelos internautas do When You Wish.

Em dezembro do ano passado, dez anos após publicar a última edição da revista Combo Rangers, o escritor brasileiro Fabio Yabu (As princesas do mar, Apolinário - O Homem Dicionário) resolveu atender ao apelo dos fãs e voltar a escrever uma história sobre os primeiros personagens de sua carreira.

A ideia já contava com uma parceria com a editora JBC, o que tornou possível o retorno no formato graphic novel, em três volumes. Mas Yabu ainda precisava de dinheiro para a produção, então criou uma campanha em outra plataforma de financiamento coletivo, o Catarse:

— Sempre ouvia as pessoas pedindo. Eu também queria voltar. Mas, não queria simplesmente fazer uma edição e depois sumir. Quando surgiu o financiamento coletivo há uns dois ou três anos, eu comecei a sentir que poderia ser uma oportunidade. Eu fui observando e esperando o momento certo.
Internautas engajados, a receita do $ucesso

Em um mês de campanha, Yabu arrecadou mais de R$ 56 mil, vindos de 562 apoiadores. Na média, as doações foram de R$ 100 cada – o que pode ser considerado um valor bastante generoso, levando em conta, uma doação de R$ 40 já garante um exemplar digital e físico da revista (incluindo o frete).

A generosidade das doações, que se repete em diversos projetos, mostra que o grau de engajamento do internauta é alto. Segundo o diretor da When You Wish, o financiamento coletivo pode ser um prato cheio para novos produtos culturais, gadgets e causas humanitárias no Brasil.

— Essa tendência já chegou ao Brasil. O mercado ainda não está desenvolvido como nos EUA, mas já existem vários projetos bem sucedidos. Acho que o que falta agora é apenas criar uma conscientização da população em geral de que existe uma nova forma de financiamento para projetos que está ao alcance de todos. 

Chaves comenta que uma das vantagens do financiamento coletivo é funcionar como uma pré-venda: se o usuário quiser, o dinheiro só troca de mãos quando a campanha atinge sua meta.

— A When You Wish deixa a cargo de quem está doando escolher se quer fazer uma “doação” (sem amarras) ou o que chamamos de “intenção”, que é uma doação condicionada ao projeto arrecadar 100%. Isso possibilita que instituições filantrópicas, mesmo que não tenham atingido sua meta, consigam se capitalizar com as doações recebidas.

Projetos “Lado B”

O sucesso do Ouya e o retorno dos Combo Rangers, guardadas as devidas proporções, têm uma série de semelhanças: seus criadores já eram conhecidos no mercado, atendiam uma demanda existente e aproveitaram a divulgação a seu favor. Mas, e quando a proposta é um pouco mais extravagante?

O Kickstarter tem uma verdadeira coleção de projetos “lado B” (confira na galeria). O exemplar brasileiro é o Nake it, que surgiu com a promessa de despir apresentadora Pietra Príncipe, desde que o site conseguisse arrecadar R$ 300 mil. O objetivo não foi atingido, mas se transformou no meio do caminho.

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imagem de uma pessoa em frente a tela no notebook com a logo do serviço balcão virtual. Ao lado a frase indicando que o serviço