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Para os que não conhecem ainda A Festa do Çairé


Se você nunca foi ao Çairé, não se limite a apenas ouvir que lá você vai encontrar ladainhas, rituais, muito simbolismo e personagens de um passado bem distante que resistem até hoje.

O que é o Çairé?

O Çairé é uma grande manifestação folclórico-religiosa onde acontece o encontro da cultura indígena amazônica com a religião católica introduzida com a chegada dos jesuítas. É uma festa de louvor ao Divino Espírito Santo que incorpora elementos da natureza e folclore indígena.

Uma combinação de festas e crenças que acontece todos os anos no distrito de Alter do Chão. Historiadores acreditam que a festa tenha mais de 300 anos na região oeste do Pará, portanto, é uma das festividades mais antigas da Amazônia.

Embora mantenha a essência e preserve os princípios religiosos, ganhou novos elementos culturais, deixando a festa ainda mais encantadora, como o Festival dos Botos que apresenta a rivalidade entre Cor de Rosa e Tucuxi, com um show de danças e encenação da lenda do boto que se transforma em homem para seduzir mulheres.

A história

O Çairé acontecia em vários lugares da Amazônia no século XVII, quando os padres jesuítas envolviam música, dança e representações da natureza e cultura indígena nas missões religiosas nessas comunidades. Ao longo do tempo o evento deixou de existir, se mantendo vivo somente no distrito de Alter do Chão.

Existem duas hipóteses sobre o início do festejo.

1. A primeira é de que o Çairé era uma celebração feita pelos índios para receber os colonizadores portugueses.

2. A segunda, mais provável, indica que a celebração partia dos missionários jesuítas, para catequizar os índios.

De qualquer forma, alguns símbolos e eventos são frequentes nos relatos sobre a festa. O Çairé começou com apenas uma pequena procissão na qual se conduzia o Arco do Çairé, que carregava tanto simbolismos católicos quanto representações das belezas da flora amazônica. Após a chegada do cortejo eram realizadas a reza e o jantar em que eram servidas as delícias da culinária regional, especialmente frutas e peixe.

Em 1943, a festa foi proibida pelos religiosos franciscanos. Voltou a acontecer na década de 1970, incluindo mais ritos profanos. Hoje, os ritos não-originais mais importantes são a busca dos mastros e o Festival dos Botos.

Na busca dos mastros, os moradores de Alter do Chão e visitantes seguem em procissões fluvial e terrestre cercada de personagens locais para buscar dois troncos de árvore na floresta. Os troncos são decorados com flores e frutas, permanecem de erguidos durante os cinco dias de evento e sua retirada indica o fim da festa.

O Festival dos Botos foi inserido no ano de 1997, com a competição dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, valorizando uma das mais belas e tradicionais lendas da Amazônia, a lenda do boto, assim como o ritmo típico da região, o carimbó.

O festival é um dos eventos mais conhecidos e esperados pelos turistas que vêm em busca da festividade.

O Çairé tornou-se uma das principais manifestações folclóricas e culturais da região Oeste do Pará, e este sem dúvida, configura-se como um dos principais atrativos turísticos de Santarém.

Dicionário de símbolos e personagens

Arco do Sairé
É um símbolo em formato de semicírculo que representa a arca de Noé. O arco é feito com cipó ou madeira, adornado com fitas e flores coloridas, que simbolizam a fartura de alimentos na região. O arco possui três cruzes centrais, que representam a Santíssima Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) e uma cruz na parte superior que representa a junção das três pessoas da Santíssima Trindade, em um só Deus.

Mastros
Simbolizam a diversidade da flora e abundância de alimentos da região. Os mastros são buscado na floresta, e no lugar são plantadas outras árvores. São carregados em procissão nas ruas de Alter do Chão pelos personagens mordomos e mordomas. Ao serem erguidos no centro da Praça do Çairé, adornados com frutas regionais, é a indicação de que a festa começou. Eles permanecem erguidos durante os cinco dias do evento, e são derrubados ao final para demonstrar o encerramento das festividades.

Troneira
É quem recebe simbolicamente os devotos no ritual do beija-fita, momento de agradecimento as agraças alcanças. Ela também é a zeladoura da coroa do Divino Espírito Santo. Na chegada da procissão à praça do Sairé, a troneira recebe a coroa das mãos da juíza e guarda o símbolo durante os dias de festa.

Moças das fitas
Escolhidas entre “moças puras” (virgens), se vestem de branco nos festejos representando a pureza. Estas personagens caminham junto com a Saraipora na procissão, segurando fitas que estão ligadas a ponta mais alta da cruz do Çairé.

Saraipora
Mulher que conduz o símbolo do Sairé durante as procissões pelas principais ruas da vila de Alter do Chão. Diz-se ser a responsável por distribuir entre os demais as bênçãos do Espírito Santo.

Juiz e Juíza
Cada um assume a responsabilidade por um dos mastros levantados durante o evento. A juíza também conduz a coroa do Divino Espírito Santo enfeitada com fitas coloridas.

Foliões\Rufadores
Composto pelo conjunto musical Espanta Cão são responsáveis pela execução das folias entoadas para os santos durante os ritos religiosos do Çairé.

Capitão
Empunhado com uma espada, exerce o papel de comandante da procissão do Çairé e na bênção dos mastros, como se estivesse comandando a Arca de Noé.

Mordomos e mordomas
nove homens e nove mulheres responsáveis pela ornamentação do Barracão, ajudam a carregar os mastros e levam varinhas enfeitadas com fitas.

Rezadeiras
Responsáveis por entoar as rezas e ladainhas durante as celebrações.

Alferes
Duas pessoas responsáveis pela condução das bandeiras. a vermelha do juiz e a bandeira branca da juíza.

Procurador e procuradora
Responsáveis pela ornamentação da festa religiosa e são substitutos imediatos do juiz e da juíza.

Fonte: Çairé 2017, André Oliveira, Santarém, Alter do Chão

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