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Sem Tapajós, ainda restam os atuais reservatórios. O que fazer?

Por: Orestes Gonçalves Jr* 

A recente decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) pelo arquivamento do processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no Pará, reacendeu o debate em torno de qual modelo de matriz energética o Brasil deve seguir.

Especialistas são praticamente unanimes em afirmar que o modelo das grandes hidrelétricas, aposta brasileira das últimas décadas, não atende por completo a realidade do País, sobretudo com as novas exigências legais e demandas socioambientais.

O próprio acordo firmado pelo governo federal em Paris, durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), sinaliza não só a necessidade, mas também o compromisso das autoridades públicas e do setor privado de diversificar a matriz energética brasileira a partir de fontes renováveis. A intenção do País é ter 23% de geração limpa, com ampliação de projetos de usinas solares, eólicas, de biomassa e de biocombustíveis até 2030.

Nos últimos três anos, o Brasil viveu – e ainda vive – um de seus piores momentos na economia. E o cenário negativo impacta diretamente o setor elétrico. O aprofundamento da recessão econômica resultou na queda no consumo de energia elétrica no País e fez com que as distribuidoras elevassem a projeção de sobras de eletricidade contratada neste ano, o que, segundo análises do próprio mercado, pode representar perdas bilionárias a serem divididas entre as concessionárias e os consumidores.

Dados oficiais dão conta de que a ociosidade das linhas de transmissão e subestações passa de 60%. Se não bastasse, o setor elétrico ainda enfrenta o grave problema da escassez de água e queda nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. A usina de Serra da Mesa, em Goiás, que possui o maior volume de água represada da América Latina e que regula os níveis de outras cinco hidrelétricas na região, está com apenas 13% da capacidade.

A situação não fica melhor nas demais regiões do País. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), as principais bacias do Nordeste operam com 17% da capacidade, com o reservatório de Sobradinho, na Bahia, com 12%. No Centro-Oeste e Sudeste, o cenário é um pouco melhor, com reservatórios de ambos operando com 44% da capacidade.  

Uma das alternativas encontradas – e disponível no mercado – são as usinas solares flutuantes instaladas nos reservatórios já existentes. A ideia é justamente aproveitar a infraestrutura de transmissão e subestação já montada e, ao mesmo tempo, reduzir a queda do volume de água, já que esse tipo de tecnologia reduz em até 70% a evaporação na área coberta pelos equipamentos. A estratégia é despachar a usina solar flutuante durante o dia e utilizar plenamente a subestação e a linha de transmissão existente, o que permite estocar água e energia, otimizando o sistema e ajustando os volumes hídricos neste período de estiagem. Desta forma, o setor elétrico passa ter ação direta na gestão da água e energia.

Atualmente, há dois grandes projetos nessa área em andamento no Brasil e pioneiros no mundo. As unidades de Balbina (Eletronorte), no Amazonas, e de Sobradinho (Chesf), na Bahia, terão cada uma 5MWp de energia solar flutuante. Os empreendimentos terão capacidade de geração para abastecer uma cidade com cerca de 40 mil habitantes e são realizados no programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Eletrobrás para captação de projeto de geração complementar de energia solar.

A geração solar no espelho d’água gera aproximadamente 18% a mais de energia do que a geração solar em terra ou no telhado, em função do resfriamento da temperatura dos painéis. A tecnologia aplicada de estruturas plásticas flutuantes serão produzidas no Brasil ainda este ano pela francesa Ciel & Terre.

Estabelece-se assim uma geração de energia híbrida com duas fontes renováveis em uma única infraestrutura (subestações e linhas de transmissão), otimizando os ativos existentes, ocupando capacidade ociosa das linhas  de transmissão, injetando energia nova no sistema no curto prazo e agindo positivamente na gestão da estiagem. Atributos importantes para o setor elétrico que receberá uma injeção de geração nova renovável por ano entre 1GW a 2GW, volume factível de ser executado pelo estabelecimento da cadeia produtiva da indústria solar no Brasil.

A geração de emprego anual para estes 2 GWp será bastante considerável, estimada em aproximadamente 50 mil vagas para profissionais envolvidos na fabricação dos produtos, no desenvolvimento dos projetos e na instalação da usina solar.

A tecnologia de geração solar flutuante é bastante consolidada no mundo, sobretudo em países da Europa e Ásia. Há cerca de 40 usinas em operação e aproximadamente 80MW construídos. Isso sem mencionar o recente anúncio da Agência de Energia da China para a construção da maior usina solar flutuante do mundo, com capacidade de 850 megawatts (MW), o suficiente para abastecer uma cidade com cerca de 5 milhões de habitantes, a ser construído em um espelho d`água na província de Anhui.  

*Orestes Gonçalves Jr é economista, com mais de 30 anos no setor elétrico
 

 
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