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Santarenas padecem com violência doméstica


Segundo assistente social, a pessoa que presenciar violência, deve denunciar ao 190 e terá sigilo.

Diane Castro fala da agressão de um homem a uma mulher na orla de Santarém

A assistente social Diane Castro, responsável pelo Centro de Referência Especializado em Atendimento à Mulher em Situação de Violência, Maria do Pará, esteve em nossa redação para falar sobre a violência física e doméstica contra a mulher, sendo que um caso recente aconteceu no último final de semana na orla de Santarém, onde muitas pessoas presenciaram a cena e nada fizeram.

Diane Castro se reportou da seguinte forma: “A partir do momento que eu vejo um homem batendo em uma mulher, eu estou presenciando um crime e não estou fazendo nada, nesse caso estou sendo omissa em relação a isso. As pessoas costumam falar que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Pois eu falo para você meter sua colher, porque se você não meter a colher ele vai meter a foice, vai dar testada, vai dar facada, vai dar um tiro, vai dar um soco ou um puxão de cabelo. Se você presenciou uma agressão, você deve ligar para o 190, NIOP, que é superpreparado para atender esses casos. Você não precisa se identificar, pois a partir do momento que você está fazendo isso, está salvando uma vida. A partir do momento que a mulher está levando soco, puxão de cabelo ou empurrão, vai ficar com lesão em seu corpo, é uma ação independente dessa mulher querer denunciar ou não; ela não tem escolha, está com marcas no corpo, então, o corpo dela já fala por si, tem de denunciar, pois a o homem chega ao ponto de fazer isso em público imagina quando ele entrar em sua casa e fechar a porta, lá que vai ser pior”.

EVITE O FEMINICÍDIO: A assistente social diz ainda que: “A mulher não tem condições psicológicas de responder por si mesmo, então, alguém vai ter de intervir. Eu não acredito que as pessoas que viram uma cena dessa conseguiram chegar em casa, deitar a cabeça e dormir sem pensar o que poderia vir  a acontecer depois. Não seja omisso, denuncie, porque muitas vezes pode acontecer com a sua mãe, sua filha, com sua irmã, com alguém que você conhece; não desista dessa pessoa, por mais que ela fale que não quer denunciar. Se você tem uma tia ou uma irmã passando por isso, que não quer ajuda, não a abandone, pois quando ela estiver preparada para largar esse homem vai ter o seu apoio. A gente não está aqui para julgar e condenar, temos de apoiar e nos colocar no lugar da pessoa. Mas, seja contra qualquer tipo de violência, não aceite. O que adianta eu filmar, se eu não estou fazendo nada. Eu vou filmar, jogar numa rede social, mas o que que eu fiz enquanto cidadão, enquanto ser humano? Nada! Filmei a desgraça dos outros, mas não fiz nada por ela. Comece a pensar desse jeito, porque assim a gente vai estar evitando muito feminicídio. Em relação à violência doméstica, qualquer pessoa pode ligar. O que eu oriento, se for sua vizinha ou alguém da sua família, você não quer se indispor com ela ou você tem muito medo desse homem que é agressivo, tem arma de fogo, dorme com terçado ou faca embaixo do travesseiro, ligue para o 190, é anônimo, você tem direito ao sigilo, você pode comparecer no Centro Maria do Pará, você pode comparecer na Delegacia, no Ministério Público e pedir esse sigilo. A equipe do Centro Maria do Pará vai até a casa da pessoa para verificar se tem violência; se tiver, vai pedir para que essa mulher seja acompanhada pelo Centro. Você pode denunciar, mas não precisa falar seu nome”

MEDO DE DENUNCIAR: Diane Castro comenta situações onde a mulher não denuncia, dizendo está passando por dificuldade financeira ou sentimental.

“Eu sempre falo que as pessoas têm mania de falar a frase: ´Mulher de malandro gosta de apanhar`. A mulher que sofre violência, é muito forte. Se ela apanha daquele homem, é humilhada, ofendida ou estuprada, essa mulher passa por tudo isso, porque ela nunca teve oportunidade para trabalhar, não tem emprego, foi morar com ele muito nova ou às vezes com 15 anos 16 anos e hoje está com 30 anos de casada. Essa mulher foi proibida de estudar, tinha de ficar só em casa cuidando dos filhos. Sua família já lhe abandonou, porque viu ela chegar na casa de sua mãe pedindo ajuda, com o olho roxo, mas depois de uma semana voltava para ele. Essa mulher sente uma dependência emocional muito forte por ele, porque todo mundo a abandonou e, querendo ou não ele é o homem que ainda dá um prato de comida para ela, é assim que ela pensa. ´Ele me dá um prato de comida, eu tenho onde morar`. Então, assim é a dependência emocional. Como eu falo, a violência é muita equiparada ao uso da droga. Você sabe que a droga faz mal, você tem os seus delírios; quando você fica um período sem drogas ou sem álcool, você entra em abstinência. Assim é essa mulher, quando ela se vê numa situação que vai ficar sem esse homem, sem a pessoa para manter e cuidar de seus filhos, ela entra em desespero, pois diz que precisa emocionalmente daquele homem, pois para ela ainda é a única pessoa que tem. Eu já trabalho há oito anos com violência doméstica, já vi muita coisa. Vou te dar um outro exemplo: Imagine que você trabalha numa empresa e o teu patrão é um homem que todo dia ti xinga, fala que você é burra, que você não sabe fazer nada, ele te empurra, joga papel na tua cara, te sacode. Você suporta aquilo, você tem vontade de pedir as contas, mas se pedir vai ficar desempregada ou perder seus direitos, você mora de aluguel e não vai ter onde morar, não vai ter o que comer, vai parar de estudar. Não é diferente da mulher que sofre violência, só que o exemplo que eu estou dando, é o seu emprego e é a forma que te mantém; da mulher é diferente, o que ela tem hoje é esse homem, que vai mantê-la, lhe dar um teto, comida, apoio e ‘segurança’. Então, se você não consegue entender de outra forma, se coloque no lugar da mulher, enquanto uma pessoa empregada, que fica mais fácil para você entender”, informou.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

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