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Pará possui dois entre os 10 melhores hospitais públicos do Brasil, aponta ranking nacional da ONA

Vítima de um acidente grave, o vendedor Cícero Oliveira da Silva, 62 anos, chegou desacordado ao hospital, em Altamira. Teve que passar por uma cirurgia delicada na perna. Sua vida corria risco. "Não sou daqui e estava sozinho. Foram três meses dentro do hospital. Lembro que uma equipe veio conversar comigo e me acolheu. Eles estavam todo tempo cuidando de mim, zelando pela minha saúde e até mesmo aturando meus momentos de tristeza. Afinal, ninguém é de ferro. E eu nunca imaginei que receberia um tratamento como esse dentro de um hospital público".

O relato, feito em tom de agradecimento, vem de um dos cerca de 31,6 mil pacientes que todos os dias passam pelo Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira. É mais uma das histórias que exemplificam um modelo de atendimento que deu certo, e que esta semana rendeu ao Pará um destaque nacional no ranking de excelência em atendimento em saúde, que é ordenado periodicamente pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) – organização não-governamental que é uma das mais respeitadas referências independentes para avaliação de serviços de saúde do País.

De 2.987 hospitais públicos que atendem ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, apenas 10 se destacaram na mais recente lista da ONG, por oferecer um elevado padrão de atendimento à população – aferido por um certificado de excelência concedido pela entidade. Entre esses modelos de qualidade de serviços e da gestão da saúde pública, além do Hospital Regional Público da Transamazônica, foi incluído também o Hospital Regional do Baixo Amazonas, de Santarém. 

Entre os melhores do País

O ranking dos 10 melhores do País listado pela Organização Nacional de Acreditação significa que esses são os únicos hospitais públicos de todo o Brasil que receberam a nota máxima entre as unidades de saúde que foram avaliadas em todo o território nacional - conferida pela certificação ONA 3 (que significa ‘Acreditado com Excelência’). Vários outros hospitais são avaliados pela entidade em todo o Brasil todos os anos. As demais certificações têm graus menores para esse reconhecimento, de acordo com demais desempenhos: há ainda os certificados ONA 2 (‘Acreditado Pleno’) e ONA 1 (‘Acreditado’).

Entidade não-governamental e sem fins lucrativos, fundada em 1999, a ONA realiza avaliações que seguem padrões estabelecidos pelas normas do Sistema Brasileiro de Acreditação e do Manual Brasileiro de Acreditação. A ONG verifica a qualidade em todas as áreas de atividades dos hospitais. Visitas e avaliações aferem itens como infraestrutura, internação, controle de infecções, higienização e outros processos envolvidos na assistência aos pacientes. Os focos gerais das avaliações são a qualidade de atendimento, a gestão de processos, a segurança oferecida aos que são atendidos e os resultados econômicos, assistenciais e de desenvolvimento de seus serviços.

Desse modo, fazer parte da lista dos 10 mais bem avaliados da ONA significa que os dois hospitais paraenses figuram hoje num cenário privilegiado de patamar de qualidade em todo o Brasil. Além deles, todos os demais citados na lista da Organização Nacional de Acreditação estão sediados na região Sudeste: sete outros são de São Paulo e o último restante é do Rio de Janeiro (ver lista completa abaixo).

Modelos de atendimento

"Esse resultado é muito relevante, principalmente frente ao quadro das grandes diferenças e dificuldades logísticas regionais do Brasil", avaliou Paulo Viol, gerente de operações da Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, a Organização Social de Saúde (OSS) que hoje é responsável pela administração dos dois hospitais paraenses que figuram no ranking máximo da ONA.

O Hospital Regional Público da Transamazônica, situado em Altamira, e o Hospital Regional do Baixo Amazonas, de Santarém, são vinculados à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), mas são gerenciados pela OSS Pró-Saúde desde que foram criados, em 2008, por meio de um contrato de gestão firmado com a Sespa. A meta do Governo era criar núcleos regionais que começassem a descentralizar o atendimento em saúde no Estado - e ajudassem o Pará a sair da lógica perversa que abarrota os serviços públicos de saúde da capital.

"Atribuímos esse bom resultado a um plano que completa nove anos. Todos esses hospitais já surgiram com núcleos de trabalho voltados para a qualidade e em busca de sistemas de acreditação para avaliação de seus serviços. E a isso se somou uma grande parceria, fortalecida por uma política de Estado que se dispôs a implementar, no Pará, um modelo de boa gestão que é muito semelhante ao da iniciativa privada", destaca Paulo Viol.

O gerente de operações da Pró-Saúde ressalta: a cultura de avaliação sistematizada dos serviços, aliada ao modelo de gestão por contratos firmados com Organizações Sociais de Saúde, é o melhor caminho para se eliminar os estigmas dos problemas de atendimento que marcam hoje a saúde pública do Brasil. Um espelho dessa equação está no próprio ranking de excelência divulgado pela ONA: todos os dez integrantes da lista dos melhores hospitais públicos do Brasil são geridos por Organizações Sociais de Saúde.

“Nos Estados Unidos, esse tipo de rotina de avaliação está presente em 70% dos estabelecimentos. No Brasil, sabe-se que ainda só 4% dos hospitais públicos têm seus serviços aferidos por processos de certificação, embora esse seja um modelo que representa uma solução para os problemas de atendimento pelo SUS”, avalia Viol. “Faltam incentivo e custeio de projetos nesse sentido por parte da União. Os impactos desse modelo poderiam ser bem mais profundos para a saúde pública no Brasil”.

Avaliação leva em conta 1,7 mil itens

A acreditação conferida pela ONA é válida por três anos. A avaliação é de caráter voluntário: os hospitais que querem se tornar referência no setor de saúde se oferecem e se programam para receber instituições especializadas em mensurar o nível dos serviços prestados. Ao longo de visitas - que podem durar até três dias - e através da análise de documentos, avaliadores verificam mais de 1,7 mil itens antes de outorgar a certificação.

Nesse esforço, outros hospitais administrados pela OSS Pró-Saúde já buscam a certificação de seus serviços. O Hospital Galileu, de Ananindeua, e o Hospital Oncológico Infantil, já possuem núcleos de trabalho criados para isso. Esta semana o Hospital Galileu recebe a visita de uma comissão de avaliação ligada à ONA. A aferição, iniciada na segunda-feira (9), segue até esta quinta-feira (12). Estima-se que o resultado da avaliação possa ser conhecido em 40 dias. “Queremos seguir o mesmo caminho traçado pelos hospitais regionais de Santarém e Altamira, acreditando a qualidade de seus serviços de atendimento”, adianta Paulo Viol, gerente de operações da OSS Pró-Saúde.

Em entrevista recentemente publicada, por ocasião da divulgação do ranking dos 10 melhores hospitais públicos a ostentarem a certificação ONA 3, a superintendente da ONA, Maria Carolina Morenos, lembrou que muitos hospitais públicos deixam de procurar o selo de acreditação porque se consideram muito abaixo do padrão exigido. "Além da valorização do próprio funcionário do hospital, quando o local conquista o selo, os pacientes conseguem sentir na prática a qualidade dos serviços", pondera Morenos. “Em uma unidade acreditada, o risco de ocorrer um evento adverso é menor. O hospital que atinge o nível máximo de excelência é uma unidade que se preocupa com a segurança do paciente".

É isso que parece se refletir na sensação de acolhimento de Luiz Djalma da Silva Ramos, 61 anos. Ramos depende rotineiramente do Hospital Regional Público da Transamazônica para realizar atendimentos em hemodiálise. “O Hospital Regional é a minha segunda casa. Aqui tenho amigos e todo o apoio para minha saúde física e mental. As pessoas que nos atendem estão acima do profissionalismo. Eles fazem algo a mais que a medicina pode dar. Isso é calor humano, e não tem preço. É uma alegria ver um hospital como esse, que é público, com tanta qualidade de pessoas e de estrutura, cuidando de todos sem fazer distinção”.

A trajetória de evolução dos serviços do HRPT de Altamira é uma prova de que avaliar serviços constantemente - como parte de uma política firme de gestão estabelecida internamente - ajuda a melhorar sempre os atendimentos. Ainda em 2010, ele se tornou o primeiro hospital público das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste a receber uma certificação da Organização Nacional de Acreditação, com o selo ONA 1 (Acreditado). O Hospital Regional de Altamira depois foi certificado como ONA 2 (Acreditado Pleno), em 2012. Agora, atingiu a certificação ONA 3 (Acreditado com Excelência). Vale lembrar: as certificações são concedidas somente às unidades hospitalares que atendem a criteriosos processos de segurança do paciente e do funcionário, e que mantêm uma gestão integrada.

Prestes a completar 10 anos de funcionamento, em dezembro deste ano, o Hospital Regional Público da Transamazônica hoje é referência no atendimento gratuito à saúde para cerca de 600 mil habitantes dos nove municípios da Região de Integração do Xingu (Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu).

Qualidade plena em Santarém

Certificado este ano também com o selo ONA 3, o grau máximo de qualidade de atendimento aferida pela organização não-governamental, o Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Pena (HRBA), de Santarém, também já havia sido reconhecido anteriormente pela sua gestão e qualidade de atendimento. Já ganhou o prêmio nacional da Federação Brasileira dos Administradores Hospitalares e ostenta títulos como "Hospital Amigo do Meio Ambiente" e "Hospital Carinho", além de ter sido apontado como referência em gestão e qualidade pela III Conferência Latino-Americana da Rede Global de Hospitais Verdes e Saudáveis, realizada na Argentina.

Com residência médica em 13 especialidades, o HRBA de Santarém presta hoje atendimentos que incluem cirurgia geral e cirurgia avançada, infectologia, medicina intensiva e obstetrícia, ginecologia, anestesiologia e cancerologia cirúrgica e clínica, além de clínica médica, neurocirurgia, ortopedia, traumatologia e pediatria.

“Durante todo o tempo em que eu estou aqui sempre fui bem tratada. Me acolheram super bem. Em Belém, o tratamento foi muito bom, mas aqui é melhor ainda. E é bom porque posso me tratar no local onde eu moro, não preciso sair daqui”, sorri Alcione Mendonça, de 26 anos. Natural de Itaituba, Alcione mora em Santarém e tem no HRBA o apoio para realizar sessões de quimioterapia de duas em duas semanas. A luta, iniciada em novembro de 2015, é contra um linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que se origina no sistema linfático.

Pastor de Oriximiná, Gelzimar Oliveira, de 48 anos, é um dos 36,4 mil pacientes que diariamente contam com os serviços do HRBA - muitos deles oriundos de várias localidades da região, em busca de atendimento de referência em Santarém. No caso de Oliveira, mais um entre os milhares de pacientes que podem contar com consultas e exames com apoio de oncologistas no hospital regional.

Gelzimar precisa realizar uma biópsia. E frente a um desafio tão inquietante para a sua saúde, o pastor resume com serenidade o quão importante é, para a tranquilidade dos que dependem de cuidados médicos, o esforço de se oferecer acesso universal a atendimento em saúde gratuito e de qualidade a milhares de pessoas do Baixo Amazonas e de vários outros rincões do interior do Estado. “Todas as vezes que eu precisei de atendimento aqui no Regional fui atendido de uma forma muito especial. Hoje eu precisei de exames e também fui bem atendido. Não tenho nada do que reclamar daqui. A gente se sente mais seguro ao saber que está em um hospital com qualidade”, sorri.


Fonte: Secom

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