Redação do Enem prisional aborda a discriminação social
A polêmica em torno do fenômeno social dos "rolezinhos" foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade - Enem (PPL) 2014. No Pará, 749 detentos custodiados pelo Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) participaram das provas, que terminaram na última quarta-feira, 10. Neste segundo dia de exame, mais de 33 mil presos de todo o país responderam a questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e também fizeram a Redação, que este ano tratou da discriminação social, com o tema: "O que o fenômeno social dos 'rolezinhos' representa?"
No Presidio Estadual Metropolitano I (PEM I), localizado no Complexo Penitenciário de Marituba, 44 detentos foram inscritos no Enem PPL 2014. No segundo dia de provas, 15 faltas foram registradas. O detento Ledmilton Rodrigues, 35, fez pela segunda vez o exame e acha que se saiu bem na redação. “Algumas questões estavam difíceis, como as de Matemática, porque ainda tenho muita dificuldade com os cálculos, mas o tema da redação me chamou atenção por ser um tema fácil, que surgiu esse ano. Acredito que muitos adolescentes iam pros rolezinhos por influência dos outros e acabavam bagunçando. Mas alguns já iam mesmo com interesses ruins, como o vandalismo e até a prática de crimes”, opinou.
Quem também saiu confiante da prova foi o interno Pompílio da Luz, 24. Após seis anos parado, ele recomeçou os estudos dentro do cárcere e fez a prova para garantir a certificação do Ensino Médio, além de tentar uma vaga em curso de nível superior. “Espero passar. Apesar de estar preso, quero ganhar uma bolsa e continuar meus estudos, mesmo ainda cumprindo minha pena", ressaltou o detento, que deseja uma nova vida fora da prisão. "Estudar é o melhor caminho pra mim hoje. É uma forma de melhorar de vida, arranjar uma profissão e dar um futuro melhor para a minha família e meus filhos", completou.
Número de inscrições cresce - O aumento de presos participando a cada ano revela um crescente interesse da população carcerária na qualificação profissional. O Pará foi o Estado da região Norte com o maio número de inscritos no Enem PPL 2014, seguido do Amazonas (473), Rondônia (400) e Tocantins (348). Na Região Metropolitana de Belém (RMB), a unidade prisional que teve mais inscritos foi o Centro de Recuperação Penitenciário Pará I (CRPP I), localizado no Complexo Penitenciário de Santa Izabel, com 72 candidatos. Já no interior, o Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRASHM), em Santarém, foi o que teve o maior número de inscrições, com 42 candidatos.
Com a pontuação do Enem PPL, os detentos podem se candidatar a uma vaga na universidade, oportunidade de acesso à educação superior e profissional, com a bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), ou ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferece bolsas de estudo na rede privada e pública, além de poderem usar o resultado da prova para obter a certificação do Ensino Médio. Para isso são necessários 500 pontos na redação e 450 nas demais disciplinas. O interno que participa do exame ainda tem a vantagem da remição da pena. De acordo com a recomendação aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o apenado que obtiver a aprovação no exame tem direito a 800 horas de remição da pena, o equivalente a 133 dias.
As inscrições no Enem PPL foram feitas via internet pelos responsáveis pedagógicos de cada instituição. Eles também são encarregados de repassar os resultados, do exame aos inscritos e pelo encaminhamento dos candidatos ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a outros programas voltados para a educação superior. No Pará, somente no ano passado, 35 detentos foram aprovados, e quatro destes encaminhados ao Ensino Superior, através do Prouni e do Sisu.
Fonte: Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará-SUSIPE
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