PIB “sustentável” mundial cresceu só 6% em 20 anos
São Paulo – Durante décadas, os países perseguiram a todo custo um conjunto conhecido de metas para atingir prosperidade e bem-estar: maior produção, maior consumo, mais empregos e competividade. Em 20 anos, no período entre 1990 e 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceu 50% e avanços positivos ocorreram para a melhoria da qualidade de vida.
Mas será que essa riqueza foi alcançada de forma sustentável? E será o PIB a melhor métrica para calcular a riqueza e o desenvolvimento dos países nos tempos atuais, marcados por crescentes pressões ambientais?
Segundo uma nova perspectiva de crescimento da riqueza mundial – o chamado Índice de Riqueza Inclusiva, IW, na sigla em inglês – a resposta é um sonoro não.
Levando em conta a nova edição do indicador, divulgado nesta quarta-feira, a riqueza global teve um crescimento anêmico de apenas 6% nas duas últimas décadas.
Diferentemente do PIB convencional, focado no capital produzido (bens e serviços), o IW engloba variações no capital humano (mão de obra) e também do capital natural (recursos naturais).
Para muitos especialistas, a métrica da riqueza inclusiva é mais ampla e capaz de espelhar o tão aspirado desenvolvimento sustentável.
O capital humano - medido em níveis de educação, competências e habilidades - é a principal fonte de riqueza do mundo, compreendendo 57% da Riqueza Inclusiva total, de acordo com o relatório. No período analisado, o capital humano cresceu apenas 8% do total em todo o mundo.
Já o capital natural, tais como florestas, recursos subterrâneos, e outros ecossistemas, compreendem 23% da Riqueza Inclusiva total. Entre 1990 e 2010, o indicador diminuiu cerca de 30% em todo o mundo.
O crescimento relativamente pequeno do capital humano, combinado com as enormes perdas em capital natural, explicam em grande parte o crescimento global anêmico apresentado pelo indicador de desenvolvimento sustentável.
Apesar dos enormes ganhos em capital produzido, a riqueza inclusiva pouco se alterou. Pelo contrário, a busca pela riqueza levou muitos países a consumir mais recursos naturais do que o planeta pode suportar. Tais práticas são insustentáveis no longo prazo, aponta o relatório.
PIB “SUSTENTÁVEL” DO BRASIL CRESCEU 2%
Dentro da perspectiva do IW, o crescimento do PIB do Brasil entre 1990 e 2010 foi praticamente irrisório: cerca de 2%, ao passo que pela métrica tradicional, o aumento foi de 40%.
Nos EUA, Índia e China, por exemplo, a riqueza medida pelo PIB no período aumentou 33%, 155% e 523%, respectivamente.
No entanto, quando as medidas de capital natural, humano e manufaturado são considerados em conjunto, a Riqueza Inclusiva dos EUA aumentou em 13%, na Índia 16% e na China 47% ao longo desse tempo.
Em alguns países, as diferenças são abissais. Na lista estão o Equador (37% do PIB x -17% IW), Guiana (97% do PIB x -2% IW), Qatar (85% PIB x- 53% IW), Tanzânia (67% PIB x -37% IW), Uganda (95% PIB x -6% IW).
“Menos de 50% dos 140 países avaliados estão em uma trajetória sustentável. Mais da metade estão consumindo além de seus meios", afirmou Anantha Duraiappah, diretor da Unesco e do Mahatma Gandhi Instituto de Educação para a Paz e Desenvolvimento Sustentável.
Segundo Duraiappah, o relatório é uma ferramenta para a tomada de decisões macroeconômicas sobre o que e onde investir assim como "um recurso educacional chave que pode ser usado por estudantes para compreender o desenvolvimento humano e o crescimento econômico de países e suas inter-relações por meio do comércio e as pressões ambientais como as alterações climáticas".
Publicado a cada dois anos, o relatório é uma iniciativa conjunta da Universidade das Nações Unidas mais de 20 universidades e instituições mais renomadas do mundo.
Fonte: Exame
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