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Mães de cinco vítimas da Kiss criam ONG para seguir trabalho de filhas



Projeto Para Sempre Cinderelas arrecada doações para crianças carentes. Cinco amigas morreram na tragédia que vitimou 242 em Santa Maria.

Para lutar contra a dor e a saudade, doação. Mães de cinco jovens que perderam a vida no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, se uniram para ajudar crianças carentes. No último mês, criaram a ONG Para Sempre Cinderelas para continuar o trabalho voluntário das filhas que morreram na casa noturna. Juntos, os familiares visitam creches e arrecadam doações de roupas, alimentos e objetos de higiene. A tragédia que matou 242 pessoas completa seis meses neste sábado (27).

“Não perdi apenas a minha filha, perdi cinco filhas”, contou Fani Torres ao G1, mãe de Flávia, que tinha 22 anos. A jovem foi à casa noturna comemorar o aniversário naquela noite ao lado das amigas Andrielle Righi, Vitória Saccol, Gilmara Quintanilha e Mirela Cruz. Além da amizade, o trabalho voluntário também unia as garotas. No Natal, pouco mais de um mês antes do incêndio, o grupo se encontrou para ajudar crianças carentes. “Fomos até a escolinha perto do Natal. Minha filha ficou muito emocionada, chegou em casa e disse que dali para a frente iríamos ajudar sempre juntas”, relembrou Fani.


A ideia de criar uma ONG veio da prima de Flávia, Marília Torres, uma semana após o incêndio. Ela criou o nome Para Sempre Cinderelas para que a prima e suas amigas nunca fossem esquecidas. No logo, quatro sapatos de cristal e um tênis, já que Andrielle era vaidosa, mas diferente. “A Andrielle era um mulherão, mas se vestia diferente das amigas. Apesar disso, todas se davam muito bem. Ela gostava de camiseta, calça jeans. A amizade delas era tão bonita, se completavam”, emocionou-se a mãe Ligiane Righi da Silva.

O primeiro local a ser ajudado pela instituição é a creche Criança Feliz, no próprio município. No entanto, com a ONG formalizada, a ideia agora é criar uma sede e poder desenvolver projetos para angariar mais doações. São as próprias mães que cuidam dos pertences doados. “Elas juntam as roupas, lavam e fazem uma triagem para ver o que está bom para doar”, conta Priscila dos Santos Peixoto, parente de Flavia e diretora de projetos da ONG.

Na última visita à creche, as crianças brincaram muito com as novas cuidadoras e já conseguiam até reconhecer cada uma das jovens inspiradoras. “As crianças já sabiam os nomes delas. Eu apontei para um dos meus botons e perguntei, quem é? E eles responderam o nome da minha filha”, disse Ligiane.

A música “Os Bons Morrem Jovens”, do Legião Urbana, é um dos lemas das mães. Ativistas e inconformadas com a maneira abrupta que perderam suas filhas, participam das ações da Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria. Também fizeram parte da ocupação da Câmara de Vereadores da cidade. “Foram os melhores dias da minha vida desde a tragédia. Elas estavam lá. Estávamos com os jovens, tinha a ‘Hora do Abraço’. Tenho certeza que o espaço nunca foi tão bem ocupado”, opinou Ligiane.

Como a ONG é um projeto “para toda a vida”, segundo as mães, o sonho é poder criar uma creche com o nome de cada jovem. Por enquanto,  elas aguardam doações e se organizam para que as “cinderelas” nunca sejam esquecidas.

Entenda

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.

O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.

Veja as conclusões da investigação

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas


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