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Denúncia: Ponte no rio Maró facilita transporte de madeira ilegal

Ponte no rio Maró
Ponte está sendo construída em ritmo acelerado pelos madeireiros. O rio sinuoso e muito belo, o Maró, contrasta com as histórias de conflitos, ameaças e violência a partir da exploração irracional de madeira com a porta de entrada no rio Arapiuns. Há muito temos acompanhado os problemas dessa região que começaram com a entrada dos gaúchos, paranaenses e outros de origem sulista muito bem acompanhados da ambição utilizando a madeira como fruto de sua cobiça.

Os conflitos vêm se intensificando desde o ano de 2000, mas ganharam novos nuances com a ação dos movimentos sociais, culminando com ondas de violências, protestos e até morte. De um lado, moradores que aceitam e fazem parte inclusive do processo de exploração através de empregos e que aceitam as recompensas dos madeireiros como educação e saúde, obrigações dos governos, e que nunca chegam às comunidades, por isso aceitam a iniciativa privada, como a “ajuda” dos madeireiros e de outro, aqueles que não concordam apelando para que esta floresta primária não seja definitivamente depredada. É visível, por exemplo, o contrataste da qualidade de vida entre as comunidades que hoje são a favor dos madeireiros e as que hoje preferiram ser indígenas sob a promessa de certas vantagens do governo.

Embora esta jornalista já tenha sido acusada de estar do lado dos madeireiros, não deixo de ver o retrato de abandono dessas comunidades por parte do poder público. As escolas sem carteiras, sem quadros, em material, sem paredes, sem chão. Parece mais aquela música: uma casa muito engraçada não tinha teto, não tinha nada, todas estão abandonadas. Começando do Arapiuns até o finalzinho do rio Maró, que leva mais uns dois dias pra chegar lá.

Umas são indígenas, outras não. Percebi que as que ‘negaram sua origem’, estão bem melhor. Um dos exemplos mais tristes trata-se da escola de comunidade de Novo lugar, comunidade de origem do cacique Dadá, Odair Borari, que brigou tanto contra a exploração de madeira e que hoje parece estar conformado com a situação, apesar do prêmio que recebeu pelo reconhecimento de sua luta. Lá mesmo, na sua comunidade, a escola está caindo aos pedaços. Abriga ainda cerca de quinze alunos que restaram e que não tem pra onde ir. Muitos já se mudaram de lá, sem perspectivas, buscam outros horizontes.

Nas comunidades onde aceitaram a exploração, buscam recompensas por isso. E dentro de seus lotes, podem muito bem vender a madeira através de planos de manejo, ou criar outros projetos rentáveis a família. Já mudaram o aspecto de suas casas, tem televisão, parabólica, rabeta, bajara, etc.

Mas as comunidades indígenas ganham pela resistência. E mantém a preservação do lugar. Daí serem chamados de preguiçosos. Na comunidade de Cachoeira do Maró, um dos moradores, Antônio Cardoso, lembra que há dois anos representantes das várias empresas que exploram a região, através de seus planos de manejo, segundo eles, tiveram a ousadia de propor à comunidade a explosão da cachoeira. É que rio Maró, sinuoso e estreito, no verão não passam barcos de grande porte, como uma balsa, por exemplo, que transporta a madeira rio abaixo. Como nesse perímetro o ‘pedral’ deixa o lugar mais perigoso ainda, resolveram explodir, o que novamente trouxe a revolta dos comunitários. Abandonaram a idéia. Mas, agora, descobriram um novo trajeto para passar a madeira.

A PONTE: Uma ponte na comunidade de Aracaty, a ultima comunidade do rio Maró está sendo construída em ritmo acelerado para aproveitar o próximo verão, e tirar a madeira que está sendo extraída nesse período de chuvas, mesmo não tendo planos de manejo aprovados ultimamente. A ponte vai dar acesso ao rio Tapajós, e muitos moradores dizem que a estrada já está pronta e vai até a um determinado ponto do rio Tapajós, dando vazão às proximidades do município de Aveiro. De acordo com isso, as madeireiras vão desembarcar seu produto à vontade, mais longe ainda da fiscalização do IBAMA e das dificuldades do rio Maró.

Essa ponte atravessa o rio de um lado para o outro, e depois, a estrada. Uma busca foi feita pra saber se essas obras estão de acordo com a legislação. Não foi encontrado nada. Quer dizer, nada que tenha sido sequer solicitado para construir tais obras. O que devem ser, portanto, ilegais. Mas, como os setores que fiscalizam ou os que permitem tais licenças não andam por lá, e sequer se interessam, tanto faz. Enquanto isso, o Maró decai. O fenômeno de terras caídas, que dizem ser natural, assoreia o rio com sua mata ameaçada pela exploração desordenada e ilegal.

Os empresários Fernando Belusso, proprietário da Rondobel, Stenio e Mauro, são amados e ao mesmo tempo odiados por lá. Eles são os madeireiros que exploram a região da gleba Nova Olinda. Eles e outros. Responsáveis pela felicidade de uns e a desgraça de outros.

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