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'Monitorar populações expostas ao mercúrio é urgência sanitária', diz médico santareno durante audiência pública em Brasília

Erik Jennings apresentou estudantes durante audiência sobre 
os impactos do mercúrio na saúde humana 
 Foto: Agência Câmara/Divulgação

O neurocirurgião Erik Jennings apresentou resultados de estudos à comissão de meio ambiente da Câmara dos Deputados.

O médico neurocirurgião santareno Erik Jennings, participou nesta terça-feira (23) em Brasília, de audiência pública sobre a mineração do Tapajós, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, onde apresentou dados que acendem um sinal de alerta sobre o adoecimento de populações amazônicas que estão expostas ao metil mercúrio.

De acordo com o médico que participou da audiência a convite do deputado Nilto Tatto (PT/SP), representando a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, o monitoramento clínico e laboratorial das populações expostas ao mercúrio é uma urgência sanitária. “Isso está sendo solicitado pelos pesquisadores há mais de 30 anos e o Brasil, como signatário da Convenção de Minamata se comprometeu a monitorar e não está fazendo”, disse.

Os problemas decorrentes da mineração na bacia do Tapajós vêm de longa data e os impactos na saúde humana provocam doenças como malária, leishmaniose, DSTs e desnutrição, mas o que mais tem preocupado o profissional é intoxicação mercurial.

"Tenho uma tese de que o homem amazônico está mais doente e mais ameaçado que a floresta".

Erik Jennings destacou aos participantes da audiência que, como existe muito ouro na Amazônia, existe também muito mercúrio no solo. Outro problema é o sequestro de mercúrio da atmosfera. Também existe na Amazônia o encontro de grandes rios e pequenos rios, com temperaturas diferentes, o que facilita a metilação do mercúrio.

“A atividade garimpeira não só joga azougue usado para formar a amalgama no rio elevando o nível de mercúrio, como o manejo do solo amazônico disponibiliza mais mercúrio para ser metilado nos rios. Além das queimadas no entorno também são fontes de mercúrio”, observou.

Erick recordou que o médico cardiologista Fernando Branches, na década de 90 começou a relatar os primeiros casos de pessoas intoxicadas por mercúrio. Em 94, uma equipe de pesquisadores UFPA encontrou elevados índices metil mercúrio no cabelo de moradores das comunidades Barreiras e São Luís, na região do rio Tapajós, e já em 1994 foi feita uma recomendação para um monitoramento muito estreito dos níveis de mercúrio na população.

Segundo o neurocirurgião, o mercúrio entra na cadeia alimentar dos pequenos peixes e no final da cadeia alimentar está o homem que consome o peixe.

Na cadeia alimentar os peixes se contaminam com o mercúrio e o
 homem ao consumir o peixe acaba ficando exposto 
à intoxicação — Foto: Reprodução/Tv Câmara

“O mercúrio é o metal não radioativo mais tóxico para o ser humano. Ele atravessa a barreira do cérebro que nos protege dos metais e de várias outras substâncias. Ele também atravessa a placenta e aí há uma lesão irreversível do sistema nervoso, ocasionando problemas de coração, tireóide e no sistema imunológico. Isso acontece basicamente por ingesta dos peixes, principalmente peixes carnívoros”, disse Erik.

O médico mostrou o caso de uma paciente de 32 anos, que trabalhou por 2 anos na região do Tapajós, onde passou a se alimentar de peixes. Ele teve perda de movimentos, dificuldade com a coordenação motora, e hoje passa a maior parte do tempo acamado.

“Na Amazônia se tem uma falsa ideia de não intoxicação. Mas temos casos de intoxicação por mercúrio e muitos diagnósticos ainda não fechados”.
De acordo com Erik, no Dsei Tapajós há 232 indivíduos, 90% são crianças e muitas têm um diagnóstico que ainda não está claro. Elas vêm de área que têm um longo histórico de mineração, como o rio Teles Pires.

Não existe um tratamento que cure, é só reabilitação e terapia ocupacional e tentar eliminar a exposição das pessoas ao mercúrio.

Conclusões
Segundo o neurocirurgião, as populações da bacia do Tapajós têm uma exposição acima da média mundial devido a fatores geológicos, hidrológicos, culturais e pela degradação ambiental. Além disso, há um risco grande de custo e injustiça social, quando se priva o cérebro de suas reais potencialidades, e as crianças serão mais afetadas.

Erik Jennings na mesa da audiência pública sobre mineração na
 bacia do Tapajós, na Câmara dos Deputados
 Foto: Reprodução/Tv Câmara

Erick também destacou que é fundamental treinar as equipe de saúde para diagnóstico e assistência, nesse sentido, o Dsei precisa ser olhado com mais carinho para ter estrutura, mais médicos, mais enfermeiros e equipes em condições de reconhecer as alterações em campo.

“O Estado Brasileiro precisa investir mais em pesquisa. É fundamental que estudos mais amplos, de maior qualidade sejam feitos para garantir a saúde de milhares de pessoas, mesmo distante das zonas de garimpo, porque tem sido detectado mercúrio no cabelo de pessoas ao longo de toda a bacia do Tapajós”, pontuou.

Estudos
Também participou da audiência como convidada a professora Heloísa do Nascimento de Moura Meneses, do Instituto de Saúde Coletiva da Ufopa. Ela iniciou em 2013, estudos sobre a exposição de pessoas que vivem na região de Santarém ao mercúrio (Hg) através da ingestão de peixes contaminados.

Em 2016, a pesquisadora avaliou, em sua tese de doutorado, os níveis de concentração do metal pesado no sangue dessas pessoas. A substância é considerada das mais perigosas para o meio ambiente e para a saúde humana devido à sua alta toxicidade.

Em seu trabalho, a pesquisadora concluiu que a população de Santarém está ambientalmente exposta ao mercúrio através do consumo frequente de peixe, ou seja, está sob o risco dos efeitos tóxicos da exposição. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera exposto o indivíduo que apresenta níveis de mercúrio no sangue acima de 10μg/L (microgramas de mercúrio por litro de sangue).

Cerca de 65% das pessoas que foram avaliadas pela pesquisa de Heloísa apresentaram níveis de mercúrio acima desse limite. O grupo de indivíduos que declarou consumir peixe três ou mais vezes na semana apresentou uma média de 30μg/L do metal no sangue.

Segundo Heloísa, inicialmente, o estudo analisou as amostras de sangue de moradores da zona urbana de Santarém e na comunidade ribeirinha de Tapará Grande. Mas o estudo deve ser estendido à região do planalto santareno.

Fonte: BRASÍLIA, SANTARÉM

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