Opinião: O valor do turismo para Santarém**
Por: Emanuel Júlio Leite*
A inauguração do aeroporto internacional Maestro Wilson Fonseca teve a mesma importância para o turismo de Santarém quanto às missões religiosas, no século 17, para a formação de vilas no interior da Amazônia. Em 1980,o aeroporto encurtava a distância entre a cidade e o mundo.
Em 1996, com a mudança na legislação da navegação de cabotagem, Santarém foi incluída nos roteiros de cruzeiro, colocando a cidade no mapa do turismo nacional.
Na década de 1990, Santarém envolveu-se no Programa Nacional de Municipalização do Turismo, desenvolvida pela Embratur, o então órgão oficial do turismo brasileiro. Concomitantemente, participou do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia, o Proecotur, que teve a chancela do Ministério do Meio Ambiente).
Em 2001, em âmbito estadual, foi lançado o Plano de Turismo do Pará, que consolidou políticas dos polos regionais do turismo, que ganhou alcance ampliado graças ao Programa de Regionalização, desenvolvido pelo Ministério do Turismo, devidamente implantado em 2003. Os esforços desencadeados pelo governo federal desembocaram no Plano Ver-o-Pará, elaborado em 2011. A partir daí, o Polo Tapajós foi considerado o polo prioritário para o desenvolvimento do turismo no estado do Pará, com Santarém sendo considerada a porta de entrada.
Em 2008, Santarém foi considerado município referência em ecoturismo do Brasil. A escolhida foi realizada entre os 65 municípios indutores de turismo no Brasil (Santarém está colocada entre os participantes) por reunir todas as condições que desenvolver o ecoturismo, com os atrativos que apresenta.
Em 2014, o Ministério do Turismo lançou o Plano de Marketing para o turismo doméstico, e em suas diretrizes indica os destinos indutores e de referência como prioridade.
Em 2015, aconteceu a finalização do Plano Estratégico de Turismo de Santarém e Belterra, o Plano Encontro. Ou seja, o município se estrutura, de forma organizada, para dar passos decisivos e coordenados em busca de uma boa colocação no turismo nacional.
Em 2010, a Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura (ABETA), em parceria com o MTur, realizou uma pesquisa junto aos principais polos emissores do turismo doméstico no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre), levantou que o que mais o turista valoriza no Brasil como destino de viagem são os lugares que tenham a água como apelo principal. Água (46%), cultura regional (21%), matas e florestas (17%), o jeito do povo (12%) e fauna (4%). Tudo isso vem ao encontro de tudo o que Santarém e Belterra têm de mais interessante.
Entretanto, a mesma pesquisa revelou um dado desanimador para nós. Entre as regiões com maior apelo entre os turistas nacionais, a região Norte aparecia em último lugar. O Nordeste é o primeiro colocado, com 32%, seguidos por Sudeste (25%), Centro-Oeste (13%) e Sul, com 9%. A Amazônia, com 9%.
Nessa pesquisa, a revelação de que falta algo para o incremento do turismo no Norte. Ou a falta de investimentos por parte dos governos para tal fim. Todo mundo sabe que por aqui existem lugares que oferecem uma experiência de contato com a natureza diferenciado, considerado único no país. Isso, em quase todos os estados da Amazônia.
No caso específico de Santarém, sabe-se que a natureza é o principal atrativo. Natureza conjugada de sua riquíssima cultura, história e saberes tradicionais. Alter do Chão, floresta, paisagens e praias aparecem com 60% nas citações inseridas no Plano Encontro. Hospitalidade e tranquilidade fecham o pacote de oferta de quem visita o município. A Pesquisa Qualitativa da Demanda (Plano Encontro) diz que existe um potencial latente, uma vez que existe público consumidor disposto a adquirir um programa de viagem relativamente caro e distante dos mercados emissivos do Brasil.
Com o advento da internet, está havendo uma democratização na oferta destino em todo o mundo. A maioria, na pesquisa do Perfil do Turista de Natureza no Brasil, tem na internet, com 62%, a ferramenta para a escolha do destino. TV (57%), revistas especializadas (42%).
Isso tudo tem contribuído com a ascensão de destinos, como Santarém. Mas a decisão esbarra no custo das passagens aéreas, um gargalo a ser destrinchado por todas as esferas de governo em um curto espaço de tempo. Do contrário, teremos que esconder verdadeiras pérolas a ser trabalhadas pelo turismo do Brasil, como a Floresta Nacional do Tapajós, Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, além de diversos atrativos, considerados com peso para atrair, além do brasileiro, o turista internacional.
Os esforços locais estão sendo feitos. Recentemente, foi inaugurado o Cristo Rei – Centro de Artesanato do Tapajós para valorizar a cadeia produtiva do artesanato, proveniente de comunidades tradicionais. Mas precisamos nos ligar em questões macroeconômicas. Tudo o que a região Oeste do Pará se identifica é com o desenvolvimento sustentável, utilizando os seus atrativos tão conhecidos ao redor do mundo. Enquanto isso, as promessas de desenvolvimento da Amazônia caminham de maneira tortuosa em relação à vocação regional, pois observa-se, em muitos lugares da Amazônia, extração de madeiras de forma irresponsável, de promessa de instalação de hidrelétricas e a exploração mineral.
Estamos entre a cruz e a espada.
*É produtor audiovisual, autor de dois livros - Turistificando um Caminho da Amazônia (2001) e Amazônia no Tapajós, uma abordagem turística (2004), ambos pela Editora Ícone (SP) e pós-graduando MBA Gestão Empresarial (FGV).
**Este artigo foi originalmente publicado na revista Vox, na edição do mês de dezembro de 2015.
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