Hospital público do Pará mudou a gestão de medicamentos e economizou mais de R$ 1 milhão
Hospital Regional no município de Santarém adotou medidas para melhorar o atendimento à população por meio do estudo de farmacoeconomia.
Os estudos na área de gestão em saúde têm aumentado exponencialmente nos últimos anos e trazido à tona questões que envolvem aspectos econômicos diante do crescimento de atendimentos. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), no Brasil os gastos públicos com saúde equivaleram a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), quando deveriam ser de 10%.
Para o CFM, o gasto insuficiente reflete em baixos indicadores de saúde e em más condições de trabalho. No entanto, o Conselho apontou que o dinheiro público tem sido mal gerido, principalmente pela falha de gestores em conseguir elaborar projetos.
Nesse sentido, um hospital público no Pará, na região amazônica, conseguiu promover uma economia de R$ 1,3 milhão no período de 2017 até setembro de 2019, após adotar um método de organização do uso de medicamentos denominado farmacoeconomia. A estratégia adotada pelo Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), localizado em Santarém, buscou otimizar a utilização de medicamentos e melhorar a assistência ao paciente.
A mudança, realizada na aplicação de ferramentas e métodos de trabalho, foi refletida diretamente ao usuário, gerando economia de recursos, mas ampliando o número de atendimentos, além de reduzir o tempo de espera para o início de quimioterapias. A economia gerada com a gestão de medicamentos também proporcionou investimentos em profissionais.
A farmacoeconomia são estudos voltados para a gestão dos medicamentos, reduzindo gastos financeiros, mas sem prejuízo ao tratamento dos pacientes. São diferentes estudos que podem ser empregados ao tema, entre eles a minimização de custos, análise custo-utilidade, custo-benefício e custo-efetividade.
O Hospital Regional do Baixo Amazonas é uma unidade do Governo do Estado do Pará, gerenciado desde 2008 pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, entidade filantrópica com mais de meio século em gestão em saúde.
A gestão de recursos evitando desperdícios
O HRBA começou a aplicação da farmacoeconomia ao visualizar que poderia melhorar o agendamento dos protocolos de quimioterapia, reduzindo o desperdício com os medicamentos, principalmente, com os considerados de alto custo. Ao final do dia, a quantidade de resíduos químicos acumulada acabou estimulando o estudo por parte da equipe de Farmácia da unidade, buscando alternativas junto à equipe multiprofissional do ambulatório de quimioterapia, para reduzir a quantidade de medicamentos não aproveitados.
“Diante da atual limitação de recursos que os hospitais públicos no Brasil enfrentam diariamente, a farmacoeconomia foi uma ferramenta essencial para mudar a nossa estratégia na tomada de decisão quanto aos recursos farmacológicos. Assim, foi possível manter a melhor opção de tratamento ao paciente, mas adaptada aos custeios da unidade”, explica o diretor Hospitalar Hebert Moreschi.
As mudanças realizadas na prática
O HRBA iniciou uma estratégia na qual possibilitou agendar a utilização de medicamentos de doses complementares para dois pacientes no mesmo dia. Por exemplo, um frasco contém 10ml, se os pacientes só precisam de 5ml para o tratamento de quimioterapia, é feita a aplicação em ambos no mesmo dia, evitando a perda de 5 ml, caso o medicamento fosse administrado em dias diferentes, em cada paciente.
Após o efeito dessa metodologia, os medicamentos que são injetáveis, e podiam ser substituídos por aqueles de aplicação via oral, também passaram por adaptação. O novo procedimento permitiu que torne mais ágil o início da quimioterapia pelo paciente, além de reduzir o tempo de permanência no ambulatório para o procedimento de quimioterapia.
Em 2019, o projeto foi ampliado para unidades de internação e a equipe passou a avaliar a substituição de medicamentos injetáveis, por outro injetável, que ofereça menor risco de reação adversa. Nesta fase, o projeto contou com a parceria da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). A equipe multiprofissional foi novamente reorientada sobre a importância da avaliação clínica e dos exames laboratoriais para escolher o medicamento mais apropriado ao paciente, visando reduzir risco de resistência bacteriana e o tempo médio de internação.
A nova fase, com perspectiva de economia mensal de R$ 36 mil, gerou no primeiro mês R$ 47 mil, ou seja, 12% de economia a mais do que o hospital havia previsto. “Se compararmos o que já foi consolidado de 2017 até hoje, significa dizer que evitamos um custo de aproximadamente três meses de tratamento, em média, com quimioterápicos. Se fizermos uma correlação direta, na clínica oncológica, o valor que economizamos no mês de setembro com a segunda fase do projeto (2019), seria suficiente para pagar 65% do consumo de material e medicamentos na clínica oncológica”, destacou a farmacêutica especialista em oncologia, coordenadora de Farmácia do HRBA, Sândrea Queiroz.
Os benefícios aos usuários
A aplicação de um novo método de trabalho no HRBA afetou diretamente os usuários, pois com a otimização dos recursos, é possível adquirir mais medicamentos, para beneficiar mais pessoas, sem colocar em risco a qualidade do material que está sendo entregue na terapia de quem já é paciente.
“A espera é menor e mais pacientes são atendidos. Eu, por exemplo, não posso ficar muito tempo sem o remédio, e o método supre nossas necessidades”, afirmou Antônio Prado, que faz tratamento de quimioterapia na unidade, para combater um câncer no intestino.
Especializado em casos de média e alta complexidades, o HRBA é reconhecido como um dos dez melhores hospitais públicos do Brasil, sendo referência para uma população de 1,1 milhão de pessoas residentes em 21 municípios do Oeste do Pará. A instituição é certificada pela Organização Nacional de Acreditação com o nível máximo de qualidade, a ONA 3 – Acreditado com Excelência.
Para Hebert Moreschi, os resultados na utilização do novo modelo de assistência farmacêutica demonstram a evolução do HRBA e a possibilidade de extensão desse trabalho para outras unidades. “É um projeto voltado exclusivamente à beira do leito, ao acompanhamento diário da evolução do paciente. Essa percepção faz com que nosso hospital avance a cada dia com a resolutividade da assistência”, afirmou o diretor Hospitalar.
A otimização de recursos proporcionada pelo Hospital Regional foi um dos cases apresentados no 2° Fórum de Gestão Médica, promovido pela Pró-Saúde. O evento, realizado no dia 24 de outubro, em São Paulo, reuniu profissionais de gestão e assistência médica que atuam nas unidades gerenciadas pela entidade em todo o país. Os cases assistenciais protagonizados por hospitais sob gestão da Pró-Saúde foram apresentados em duas mesas redondas — uma sobre Impactos da Governança Clínica na Prática e outra sobre Evolução da Governança Clínica para Excelência. O evento contou com a participação da Dra. Ana Maria Malik, professora titular da Escola de Administração de Empresas da FVG (Fundação Getúlio Vargas).
Sobre a Pró-Saúde
A Pró-Saúde é uma entidade filantrópica que realiza a gestão de serviços de saúde e administração hospitalar há mais de 50 anos. Seu trabalho de inteligência visa a promoção da qualidade, humanização e sustentabilidade. Com 16 mil colaboradores e mais de 1 milhão de pacientes atendidos por mês, é uma das maiores do mercado em que atua no Brasil. Atualmente realiza a gestão de unidades de saúde presentes em 22 cidades de 12 Estados brasileiros — a maioria no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). Atua amparada por seus princípios organizacionais, governança corporativo, política de integridade e valores cristãos.
A criação da Pró-Saúde fez parte de um movimento que estava à frente de seu tempo: a profissionalização da ação beneficente na saúde, um passo necessário para a melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes que não podiam pagar pelo serviço. O padre Niversindo Antônio Cherubin, defensor da gestão profissional da saúde e também pioneiro na criação de cursos de Administração Hospitalar no País, foi o primeiro presidente da instituição.
Fonte: Pró-Saúde
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