“Partidos só colocam mulheres candidatas pra cumprir lei”, afirma especialista"
Assessor do DIAP acredita que siglas não tem consciência política da importância da inserção feminina nos ambientes de decisão e só cumprem a lei por obrigação.
A lei da Reforma Política, aprovada em 2015, obrigou partidos políticos a preencher 30% de suas candidaturas com mulheres. Para o assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), André Santos, o resultado eleitoral deste ano mostra que o percentual de candidatas foi exatamente a cota estipulada pela lei, o que comprova a falta de sensibilidade das siglas com a inserção feminina na política. A explicação do especialista foi dada durante o seminário de 30 anos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (CONTRATUH), que ocorreu entre os dias 26 e 29 de novembro, em Foz do Iguaçu.
“Mulheres são 51% da população e não representam nem um terço do Câmara dos Deputados. Neste ano, o número de candidatas foi de exatos 31%, sendo que apenas 77 mulheres conseguiram de eleger, das 513 vagas existentes. Numa população onde 51% são mulheres isso é grave. Os ambientes de poder de decisão politica todos são machistas, com poucas dirigentes mulheres”, afirma Santos.
Para Maria dos Anjos, há falta de vontade de mudar a desigualdade entre
homens e mulheres no ambiente político
O assessor também reforça a ideia de maior ocupação dos espaços pelas mulheres, com uma política de inserção ainda mais agressiva. “Não há consciência de participação feminina, o machismo continua. Apenas a regra fez uma exigência e eles cumpriram à risca. Obviamente, com isso, aumentou a participação de mulheres na eleição e no seu resultado eleitora. Mas se você tem uma maior abertura ou que a lei exija 50% e 50%, obviamente a candidatura de mulheres e presença dela vai ser maior. Eu acho que tem que ter, a criação da lei é um fato pra gerar cultura em cima disso, como tantas outras leis que acabaram virando um costume”, diz.
Maria dos Anjos Hellmeister, que ocupa o cargo de presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo e diretora da CONTRATUH, diz que a resistência feminina cria espaços, pois não há essa vontade na sociedade em geral. “Nossa luta é contínua. Dentro do conselho, por exemplo, é uma guerra diária pra implantar novas formas de trazermos melhorias no mercado de trabalho e no convívio dentro da sociedade que deem para as mulheres mais igualdade de direitos”, declara.
“Desde a criação da primeira Delegacia da Mulher no mundo, em São Paulo, passando por leis como a Maria da Penha, todos os nossos esforços são para resistir, sempre com muito trabalho. Melhoramos muito, mas ainda temos muito pouco espaço”, completa Hellmeister.
Jessica Marques em evento sindical (no centro da foto)
Mulheres jovens sofrem ainda mais
Para a advogada Jéssica Marques, de 26 anos, mulheres jovens sofrem ainda mais preconceito em ambientes de decisão. Diretora da Juventude da CONTRATUH, a sindicalista diz que sente a discriminação na pele, todos os dias. “Desde o que você fala, das coisas que pensa, da relevância do que você coloca e a maneira com as pessoas se comportam com suas ideias. Homens te interrompem no seu lugar de fala a todo momento. Além de ser mulher, também Incomoda por ser jovem, e aí as pessoas acham que você não tem experiência ou conhecimento suficiente pra compartilhar algo, ou simplesmente o medo do novo causa certo repúdio”, avalia.
Jessica afirma que a realidade vem mudando gradativamente, mas concorda com André Santos que os fatores de imposição social são mais fortes que a consciência das pessoas. “Existe o politicamente correto, a ideia do que é preciso pra cumprir a obrigação de fazer, ética e moral, não por que eu tenho consciência de que isso é necessário. Houve conquista de espaço claramente, muito menos do que reconhecem do nosso papel, mas mais da obrigação de fazer”, destaca a advogada.
Fonte: Comuniquese
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