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Disparada de Dilma nas pesquisas eleitorais abala Bolsa e dólar


Mercado teme que eleição presidencial seja definida ainda no primeiro turno. O mercado financeiro reagiu na segunda-feira, 29, ao resultado da pesquisa Datafolha, temendo que a eleição presidencial seja definida ainda no primeiro turno após a disparada de Dilma Rousseff nas intenções de voto.

A Bovespa fechou com recuo de 4,52%. As ações da Petrobrás despencaram – o papel ON caiu 10,44% e o PN, 11,17%. O dólar à vista negociado no balcão fechou acima dos R$ 2,45, em alta de 1,53%, aos R$ 2,4510. Este é o maior patamar de fechamento desde 9 de dezembro de 2008, pouco depois do estouro da crise mundial, quando marcou R$ 2,4720.

Talvez o mau humor dos investidores não seja apenas com a possibilidade de a candidata do PT se reeleger já no primeiro turno, o que não é o cenário base de analistas e consultorias políticas, mas principalmente porque a disparada de Dilma já nas intenções de voto do primeiro turno torna cada vez mais improvável a vitória de um candidato de oposição ao final do pleito, quer seja Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB).

Na sexta-feira, a pesquisa Datafolha mostrou que Dilma ampliou para 13 pontos porcentuais sua vantagem sobre Marina no primeiro turno, com a petista somando 40% das intenções de votos e a pessebista, 27%. Aécio oscilou para 18%. Com base apenas nos votos válidos, Dilma tem 45%, ante 31% de Marina e 21% de Aécio Neves. Num eventual segundo turno, Dilma soma agora 47% contra 43% de Marina.

E por que o resultado do primeiro turno está pesando sobre o mercado hoje?

Ao contrário do que se diz, que a campanha eleitoral começa do zero no segundo turno, uma distância muito grande entre os dois candidatos na reta final do pleito presidencial pode não ser recuperada mesmo com o igual tempo da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio. A não ser que aconteça o imponderável na campanha da mesma magnitude que foi a morte trágica do ex-candidato do PSB Eduardo Campos em desastre aéreo.

“Para Dilma ganhar a eleição no primeiro turno, seria preciso ocorrer um crescimento vertiginoso dela, mas qual o fato novo a favor dela que pode justificar ela ganhar mais seis pontos porcentuais – que daria 50% mais 1% dos votos válidos – nesta última semana?”, indaga o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo. Para ele, os votos que Marina continuar perdendo nesta semana deverão ir para Aécio e não a favor da candidata petista.

De qualquer forma, acrescenta o professor do Insper, o resultado final do primeiro turno será muito importante para o desfecho da eleição presidencial. “Raramente, a não ser que venha à tona um escândalo, um candidato não confirma seus votos obtidos no primeiro turno”, explica Melo.

Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor do curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, lista alguns fatores que podem pesar contra o fôlego de recuperação de Marina num eventual segundo turno.

Entre esses fatores, Teixeira cita o esperado apoio do PSDB em São Paulo, onde Marina conta com intenção de voto de boa parte dos eleitores tucanos, que pode não se traduzir numa força num segundo turno, uma vez que a eleição para governador pode ser definida ainda no primeiro turno nesse Estado. Isso desmobilizaria potencialmente uma máquina de campanha a favor da candidata do PSB na reta final.

“Num eventual segundo turno entre Dilma e Marina, o PSDB acabará apoiando a ex-senadora para não ficar fora do cenário político, mas provavelmente sua capacidade de mobilização será muito pequena porque em São Paulo não deverá haver segundo turno para governador,” diz Teixeira.

E mais: Geraldo Alckmin, que lidera a corrida para o governo do Estado, teria pretensões para se candidatar a presidente em 2018 e, portanto, nos seus cálculos seria melhor ter Dilma como governo do que como oposição, o que limitaria o seu incentivo em fazer campanha para a candidata do PSB no segundo turno.

“Além disso, entre os partidos aliados de Marina, apenas dois partidos têm representação no Congresso – o PSB e o PPS -, o que pesa muito em termos de penetração da campanha dela no País”, explica Teixeira. “Muito provavelmente os outros partidos aliados dela não têm prefeitos, ou seja, não têm como levar a candidatura dela para lugares aonde Marina não chega.”

Ou seja, Marina terá de contar num eventual segundo turno com o seu carisma e com a força de sua mensagem apenas na propaganda eleitoral gratuita ou em debates na TV em vez de contar com a máquina de campanha de partidos fortes como o PT terá a disposição, a exemplo do PMDB, para conseguir maior capilaridade.

A não ser que um escândalo, como as denúncias de um suposto esquema de pagamento de propinas envolvendo a Petrobras, seja forte o suficiente, isto é, com provas sendo divulgadas pela Polícia Federal e não por apenas vazamentos na imprensa, dificilmente a propaganda eleitoral na TV terá efeito em magnitude suficiente para reverter uma distância muito grande nas intenções de voto registradas no primeiro turno.

Isso porque, depois do primeiro turno, muitos eleitores já conhecerão o suficiente os candidatos, diminuindo, portanto, a parcela dos indecisos que pode mudar o voto. Daí, uma disparada de Dilma no primeiro turno pode lhe dar uma vantagem suficiente para ser reeleita. “Se a Dilma abre mais de dez pontos porcentuais de diferença no primeiro turno, isso fará uma diferença grande, inclusive na busca de apoio de outros partidos para o segundo turno”, diz Teixeira, da FGV.

Não é à toa que a MCM Consultores divulgou hoje relatório a clientes mudando o seu cenário para a eleição presidencial.

“Desde meados de julho, trabalhávamos com um cenário de moderado favoritismo para a oposição nesta eleição, representado pela atribuição subjetiva de 60% para a possibilidade de a presidente Dilma não conseguir se reeleger”, afirma o relatório da MCM Consultores. “Trabalharemos a partir de agora com um cenário de probabilidade equivalente para a reeleição ou para a vitória de Marina Silva, 50% a 50%.” Fábio Alves é jornalista do Broadcast.

Fonte: UOL

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