Padre: “Caixa constrói casas de cachorros em Santarém”
Pe. Edilberto Sena critica Caixa Econômica pelas obras do Residencial Salvação
Pe. Edilberto Sena critica Caixa Econômica
O modelo de construção de casas populares, financiado pela Caixa Econômica Federal (CEF), como os conjuntos habitacionais Salvação, na rodovia Fernando Guilhon e Moaçara I e II, no bairro do Aeroporto Velho, em Santarém, Oeste do Pará, gerou críticas do coordenador da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Santarém, padre Edilberto Sena.
Para ele, a Caixa Econômica está financiando a construção de ‘casinhas de cachorros’ para as famílias de baixa renda de Santarém, além de escolher de forma errada as áreas para a implantação dos conjuntos habitacionais, em valas e terrenos arenosos, onde no inverno sofre com enxurradas, com as ruas virando verdadeiros rios e, no verão, com o calor e a poeira.
“Como explicar os financiamentos da Caixa Econômica para projetos de moradia em Santarém? O dinheiro é público, a intenção do governo federal é financiar moradias para milhões de sem tetos no País. Vários prédios e bangalôs vão surgindo e logo habitados, por quem pode fazer empréstimos pagáveis em tempo estabelecido. Conjuntos habitacionais para classe média também vão surgindo e ocupados por quem pode pagar as prestações”, explica.
Por outro lado, de acordo com padre Edilberto Sena, a mesma Caixa financia o que chamou de “triste cartão postal”, construído ao lado da rodovia que liga a cidade ao aeroporto, por meio do programa do Governo Federal “Minha Casa, Minha Vida”.
Residenciais Moaçara I e II e Residencial Salvação começaram
a ser construídos, mas as obras estão abandonadas
Para o padre Edilberto, tudo isso se consolida como um absurdo e humilhação aos pobres sem tetos e, uma vergonha para a cidade de Santarém, onde 2.500 ‘casinhas de cachorro’ estão sendo construídas para famílias pobres, com medidas de 6 metros por sete metros para sala, quarto, cozinha e lavanderia, para famílias de 4, 5, e até sete pessoas.
Ele denuncia que as casas não contam com área para jardim, nem quintal e tem apenas três metros de separação das outras, de frente, de trás e dos lados. “Que equipe de engenharia construiu aquilo? Para cúmulo de ironia e humilhação aos pobres, cada casinha de cachorro tem um acumulador de energia solar, mesmo que a temperatura média de Santarém, hoje seja de 32 graus. Quem permitiu tudo isso? A empreiteira? A Prefeitura? A Caixa Econômica? O Ministério das Cidades? O governo Federal? Ou todos juntos?”, questiona.
Outro problema apontado por padre Edilberto Sena é a escolha dos terrenos para a construção dos conjuntos habitacionais. “Então, vem outro absurdo coroando esse desprezo pelo dinheiro público e os pobres. Desconhecendo a orientação evangélica que já dizia: Casa construída sobre areia, vem a chuva, os temporais e ela cai arrasada… Assim aconteceu com o projeto Minha Casa, Minha Miséria, em Santarém. Vieram as chuvas, os temporais e o projeto caiu, as valas partiram as ruas e tudo parou. Desde há mais de oito meses a vergonha está exposta aos viajantes e aos moradores da cidade. Tudo indica que o projeto faliu, porque foi construído sobre terreno arenoso. Mesmo que um dia venha a ser concluído, quem aceitará morar ali? Nem os mais pobres vão aceitar o risco de perderem seus quase nada com novos temporais”, adverte o religioso.
FALTA DE INFORMAÇÃO: Até o momento, segundo padre Edilberto Sena, a sociedade não sabe nada das conseqüências do desastre ecológico que aconteceu em fevereiro deste ano no Residencial Salvação. “Já era desastre desde a concepção do projeto em tais dimensões. Ninguém diz nada, não se sabe se alguém será cobrado responsabilidade. Quem deveria cobrar? O poder público municipal? A Caixa Econômica, que financiou com dinheiro público? O Ministério das Cidades? O Tribunal de Contas da União? A Justiça Federal? Ou a sociedade santarena, que fica com esse vergonhoso cartão postal? Quanto recurso já foi gasto com as obras? Quem pagará os prejuízos? Estas questões todas carecem de respostas, ao menos aos que se preocupam com a coisa pública. Será que a gerência da Caixa será incriminada, também? Afinal, foi ela que liberou o recurso para as obrinhas”, aponta o religioso.
MOVIMENTO: Enquanto isso, padre Edilberto Sena ressalta que o Movimento de Trabalhadores em Luta Por Moradia (MTLM), vem tentando ocupar uma área improdutiva, próxima da construção do “Minha Casa, Minha Vida”. Ele denuncia que em vários momentos na ociosa área de 200 por 2.500 metros, que é ocupada pelos membros do MTLM, o Grupo Tático Operacional (GTO) da Polícia Militar, acompanhado de um representante do que se diz dono da área, chegou sem mandado de reintegração de posse e tentou expulsar os ocupantes, derrubando os barracos.
“Um delegado já chegou a registrar a líder do movimento legalizado, como chefe de quadrilha. Nunca um documento legítimo de propriedade foi apresentado, mas o Tático obedece ao advogado do que se diz dono”, denuncia.
COMPARAÇÃO: Padre Edilberto comparou a escolha da camada da sociedade que as autoridades políticas e policiais optaram por defender. “Por que dois pesos e duas medidas, uma sempre contra o povo e outra favorável às elites urbanas? Para os organizados sem teto, chega logo o Tático da Polícia. Já para os crimes cometidos, no caso do projeto Minha Casa, Minha Miséria, inacabado, desastrado, ninguém toma providência”, desabafa o religioso.
Para ele, isso não acontece porque certamente as autoridades locais, federais e da justiça não fizeram opção pelos pobres. “A opção do governo Federal é o crescimento econômico a todo custo e para os pobres projetos inconseqüentes como este analisado. Mesmo sendo o recurso usado de modo irresponsável na construção de 3 mil casas em terreno inadequado, nem o Ministério das Cidades, nem o Tribunal de Contas da União dá sinal de preocupação. Os milhares de sem tetos não sabem quando e se um dia vão ocupar as casinhas de cachorro, mas os sócios do MTLM não querem aquilo nem de graça. Um absurdo escandaloso que ninguém parece se importar!”, declarou padre Edilberto Sena.
Por: Manoel Cardoso
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