Agente de turismo que se comunica em 5 idiomas é descoberta na faxina
Promovida, Maria da Conceição trabalha no Mercado Central, em BH. Pernambucana recebe visitantes em inglês, espanhol, holandês e italiano.
Maria Conceição da Silva, de 40 anos, é pernambucana, formada em contabilidade e se comunica nos idiomas inglês, holandês, italiano e espanhol, além do português. Ela conta que também se arrisca em outros dois, sueco e alemão. Morou sete anos na Holanda e, em 2012, mudou-se para Belo Horizonte. Ficou desempregada durante oito meses e, quando estava para desistir, omitiu algumas informações no currículo e conseguiu um emprego na faxina do Mercado Central, na capital mineira. A vida dela começava a passar por uma reviravolta a partir de 2 de maio, data da contratação.
“No final do mês de abril, eu tinha vindo pra BH para tentar uma última cartada. Mas, quando eu fui para entrevista no RH de uma empresa de serviços gerais, a moça do RH começou o questionamento, e, ao descobrir minha escolaridade e que eu falava outros idiomas, ela olhou para mim e disse: sinto muito, mas eu não tenho nada para lhe oferecer”, disse.
Para conseguir o novo emprego, Conceição explica que teve que fazer algumas “mudanças” no seu currículo. “Aí eu preenchi a ficha, mas menti as informações, por medo. Falei que tinha só a 8ª série, que tinha básico de uma contabilidade, que tinha feito um curso. Aí fiz outra entrevista com o superior na parte de segurança e entrei no dia 2 de maio para o trabalho na faxina”, falou.
Aproximadamente três dias após ingressar no novo emprego, enquanto conversava ao celular com uma pessoa em holandês, um colega de trabalho se assustou e correu para contar ao supervisor que a Conceição, como é conhecida no mercado, “estava ficando doida, falando coisas que ninguém entendia”.
Com a descoberta, ela conta que foi incentivada por muitos a tentar mudar de área. Não demorou, foi promovida e, hoje, trabalha em um estande de informações turísticas. Na nova função, ela "gasta" os idiomas que aprendeu.
Ao receber o G1 no Mercado Central, Conceição demostrou, em vídeo, saudações em inglês e holandês. Também orientou uma turista canadense. Desde que sua história ficou conhecida na cidade, ela chama a atenção de quem passa pelo mercado, como a de uma colombiana que a parabenizou em espanhol. No dia a dia, Conceição "escorrega" no uso e pronúncia de algumas palavras, o que não é impedimento para atender bem os turistas. Veja no vídeo ao lado.
Embora Conceição não tenha o domínio completo dos idiomas, ela mostra desenvoltura. "Ela consegue se comunicar, mas não pode ser considerada uma nativa na língua", disse o professor e tradutor holandês Jan Ooteman, consultado pelo G1.
Maria da Conceição contou que já recebeu duas propostas de emprego na área hoteleira, desde que foi descoberta no Mercado Central. Ela afirma que tem o “pé no chão” e não vai deixar o emprego atual.
Antes de chegar a Belo Horizonte, a pernambucana morou em Amsterdã, na Holanda. Depois de sete anos trabalhando em vários empregos no país estrangeiro, ela e a companheira decidiram voltar para o Brasil em 2012 e morar em Betim (MG).
Conceição explica que, apesar de ser formada e falar quatro línguas, sua vida é igual à de muitas outras pessoas no Brasil. Mas confessa que ficou assustada com a reviravolta que sua vida sofreu depois que foi descoberta.
Agora, o Superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga, de 52 anos, quer aproveitar todo o potencial da pernambucana. “Na verdade, ela começou a trabalhar na limpeza aqui no mercado e levou o caso até minha gerência de RH, que veio falar comigo. E eu estava em um processo de seleção justamente para um agente de turismo, então eu quis conhecê-la. E para minha surpresa, a experiência que ela tem em vários idiomas era maior. Então, eu pedi os passaportes, comprovei os carimbos, e fiz um teste de conversação. E prontamente me atendeu. No dia seguinte, eu já a classifiquei e aumentei o salário dela” falou.
Agora, Conceição está fazendo um treinamento para conhecer melhor a cidade, o que vai ajudar nas informações turísticas.
*Contribuiu para esta reportagem Michele Marie
Fonte: Belo Horizonte
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