Alunos usam 'Minecraft' para recontar história de escola
Jovens criaram 'Bandcraft', para recriar escola na década de 1930. Palestra de game design ensinou crianças a organizarem criação de jogos.
No game "Minecraft", os jogadores podem construir praticamente o que desejarem como casas, edifícios, naves espaciais, monumentos, recriar o planeta Terra em escala real e o que mais a imaginação permitir. O lado lúdico, mas criativo, do game independente de construção baseado em blocos fez com que os alunos do Colégio Bandeirantes, na capital paulista, fizessem um projeto extracurricular da disciplina de História usando "Minecraft".
"A proposta do trabalho é contar a história da cidade de São Paulo desde a década de 1930 pela história do próprio Colégio Bandeirantes" conta Cristiana Mattos Assumpção, coordenadora de tecnologia educacional da escola, ao G1.
Segundo ela, a ideia de criar um projeto usando "Minecraft" partiu dos próprios alunos, já que o jogo é mania entre eles. "À escola cabe orientar para dar um sentido educacional ao uso do game", diz a coordenadora.
A ideia do grupo composto por nove alunos do 9º ano, com idades entre 13 e 14 anos, foi recriar o primeiro da escola, fundado na década de 1930, no "Minecraft", permitindo que outros colegas pudessem visitar a escola no game. Com isso, o grupo se dividiu entre pesquisadores, que foram buscar informações sobre a escola e a cidade de São Paulo, e construtores, que irão montar o prédio no game. A intenção é que informações históricas sejam apresentadas enquanto os visitantes circulam pela construção dentro do jogo.
Para os alunos, usar "Minecraft" permite que eles vejam a escola de um modo divertido e do jeito que gostariam de vê-la na realidade. Além disso, os jovens ressaltam que o trabalho de usar o game os ensina a trabalhar melhor em grupo. Para eles, "Minecraft" é um jogo - mas eles o chamam de ferramenta - que já dominam e por isso, fica mais interessante e divertido aprender a história de São Paulo e do colégio.
O trabalho dos jovens não será fácil e a criação, mesmo dentro do "Minecraft" exige organização digna de um time de desenvolvimento de games, com muito foco para alcançar o final do objetivo dentro do prazo proposto. Afinal, eles terão que reconstruir a escola do zero.
Foi aí que entrou o pesquisador e designer de games Francisco Tupy, que deu uma palestra aos alunos do Colégio Bandeirantes, na sexta-feira (24), para que eles tivessem uma visão de produção de jogos visando a concluir o projeto. "Há uma grande diferença entre jogar e fazer um game", disse Tupy aos alunos.
"Primeiramente é necessário entender o que é preciso ser feito, ver o que é viável, para depois executar. Aqui, eles estão se divertindo e, ao mesmo tempo, aprendendo", contou o game designer ao G1. "O que eu apresentei para eles, que tem a ver com design de jogos, tem a ver também com organização pessoal. Então, a partir daquilo que é comum a eles, que são os jogos, e do que é divertido, daquilo que não tem barreiras, pode-se passar outros tipos de conteúdos. Falamos na mesma linguagem dos alunos nos games. A ideia é buscar temas divertidos e que possam criar uma educação de impacto".
Recentemente, o criou a fan page "Minecraft na Escola" no Facebook, para apresentar casos de uso de "Minecraft" como ferramenta de ensino (veja aqui).
Outra intenção de Tupy é mostrar que o desenvolvimento de games é algo complexo e que, com os jovens tendo esta noção, podem ser mais críticos quanto aos jogos eletrônicos, além de entender o quanto é difícil e custoso criar um game.
Com a palestra, os alunos souberam que, para recriar a escola no Minecraft, eles teriam que criar uma tabela com as metas, colocando datas para a conclusão das diversas partes do projeto como o protótipo - algo que já foi colocado em prática pelos alunos logo após a conversa com o pesquisador. Com isso, eles definiram com quantos blocos criariam a fachada antiga do colégio, que será apresentado na feira de ciências do colégio, no segundo semestre.
O lado positivo de usar games na escola, embora, historicamente, muitos professores tenham receio dos jogos eletrônicos em sala de aula, é que os alunos tendem a aprender mais. "Ao longo deste processo [da criação da escola no 'Minecraft'] eles vão adquirindo noções de tempo, espaço e das transformações que o homem realiza dentro deste tempo e espaço. E é isso que é a História", afirma Eva Turin, professora de História do Colégio Bandeirantes, ao G1. "Você propõe contar a história de São Paulo, do início do século XX, em um jogo, e, com isso, ter que desenvolver pesquisas na área de história. Ao colocar estas informações em um plano virtual, eles adquirem a consciência do homem como protagonista da História. Eles se tornam sujeitos dessa história, entendendo que vários sujeitos a construíram".
O fato de "Minecraft" ser um jogo de videogame e ser usado em sala de aula não é um fator negativo para a professora, que disse ter tido, no passado, um certo receio dos games como ferramenta para educação. "O aprendizado tem que ser prazeroso. Na idade deles é gostoso jogar e manipular os jogos e estas ferramentas. Prefiro que eles dominem a ferramenta do que sejam dominados. Ao fazer um jogo desses, eles são agentes da tecnologia e da História. Eles não são passivos da tecnologia, são ativos. Se você souber usar, [o game] é uma ferramenta maravilhosa".
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