Operação na 'deep web' prende 17 e apreende R$ 2,5 milhões em Bitcoin
Esta coluna comentou há duas semanas sobre a confiança aparentemente inabalável na rede Tor, que, embora sirva de refúgio para pessoas que sofrem restrições à liberdade de expressão, também abriga sites de comércio de substâncias ilícitas. A partir de agora, no entanto, algo pode mudar: uma operação de autoridades norte-americanas e europeias prendeu 17 pessoas e tirou do ar 414 serviços "anônimos" protegidos pela rede Tor durante o fim de semana. Há ainda mais um mistério: ninguém sabe como isso aconteceu.
Serviços na rede Tor são protegidos por intermediários. Os endereços IP dos usuários e servidores não ficam expostos, o que dificulta a realização de investigações. A segurança da rede atrai serviços e conteúdo que não ficariam muito tempo no ar na web "comum". Por esse motivo, a rede Tor é parte da chamada "deep web" (web profunda, em português), ou seja, a parte da web que está "abaixo da superfície".
A primeira e mais notória prisão anunciada pelo FBI foi a de Blake Benthall, um engenheiro de software de 26 anos. Ele é acusado de manter e administrar o site Silk Road 2.0, sucessor do site de venda de drogas Silk Road. Era o maior site de venda de substâncias ilícitas na internet.
Além do Silk Road 2.0, diversos outros sites foram tirados do ar pelas autoridades. Eles vendiam drogas, e alguns também armas e serviços de matador de aluguel. Um dos sites, Doxbin, era especializado em hospedar documentos com informações pessoais de usuários ou suas famílias. As vítimas costumam ser usuários que não usam seus nomes reais na rede. A prática é conhecida na web pela gíria "dox".
Outros sites apreendidos vendiam notas falsas de euro e dólar, além de cartões de crédito falsificados. Um dos sites, o "Fake ID", vendia passaportes forjados.
Batizada de "Operação Onymous", a ação contou com a participação de autoridades policiais de 17 países, a maior parte deles trabalhando em conjunto com a Europol. Um total de R$ 2,5 milhões em moeda virtual Bitcoin e cerca de R$ 820 mil em dinheiro, ouro e prata foram apreendidos.
"Conforme a atividade ilícita na internet torna-se mais prevalente, os criminosos não podem esperar que eles podem se esconder nas sobras da 'web negra'", afirmou o promotor norte-americano Preet Bharara em comunicado do FBI.
Já Troels Oerting, chefe da divisão de crimes eletrônicos da Europol, comentou que a operação mostra que os criminosos "não são invisíveis, nem intocáveis". "Os criminosos podem fugir, mas não podem se esconder", declarou.
Ninguém sabe como a polícia chegou ao endereço real dos serviços. No caso de apreensões isoladas – como ocorreu com o primeiro "Silk Road" –, falhas do próprio site são as principais suspeitas. Agora, no entanto, com centenas de serviços tirados do ar, nasce a possibilidade de que a polícia tenha desenvolvido alguma técnica que permita tirar qualquer serviço do anonimato.
No domingo, um desenvolvedor do Tor levantou algumas hipóteses sobre como a polícia pode ter chegado aos serviços. Falhas de programação e segurança operacional são algumas das possibilidades, assim como problemas na moeda virtual Bitcoin. O desenvolvedor comentou ainda sobre vulnerabilidades conhecidas na maneira que o Tor oculta serviços, mas não se sabe se a polícia usou qualquer um desses métodos.
"De certo modo, é até surpreendente que os serviços ocultos tenham sobrevivido tanto tempo", afirmou o desenvolvedor, que se identifica como "phobos". Ele diz que esse recurso do Tor não tem recebido tanta atenção, o que aumenta a possibilidade de problemas e que o Tor hoje não tem dinheiro para investir em desenvolvimento e pesquisas para melhorar a situação.
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