Robótica na reorganização das cadeias globais de suprimentos
Por: Rodrigo Bueno, diretor da área de Robótica da ABB Brasil
Empresas no mundo estão reavaliando as suas estruturas produtivas após a série de interrupções nas cadeias globais de suprimentos, em função da crise provocada pela pandemia de covid-19, seguida pela guerra na Ucrânia. Com os desafios logísticos impostos pelo novo cenário, ganha mais força a adoção dos modelos de “reshoring” e “nearshoring”.
Após um forte movimento de “offshoring”, com a terceirização da produção em outros países em busca de redução de custos, as empresas vêm se movimentando para trazer as atividades produtivas de volta para casa, o “reshoring”, ou para locais mais próximos, o “nearshoring”. A estratégia é uma resposta não só ao recente choque na cadeia logística, mas também a fatores como a escassez de mão de obra e a novas exigências dos clientes.
Uma pesquisa de 2022 da ABB com líderes empresariais revelou que 74% das empresas europeias e 70% das norte-americanas estão planejando re- ou nearshore – uma tendência que, em especial nos Estados Unidos, pode beneficiar países emergentes como Brasil e México, em função da proximidade geográfica, atraindo investimentos no setor industrial.
E é nessa nova configuração das cadeias globais que a automação robótica assume um papel fundamental, levando flexibilidade para que empresas de diversos setores reajam de forma ágil e eficiente às demandas do mercado. Segundo o levantamento ainda da ABB, 75% das europeias e 62% das norte-americanas planejam investir em robótica e automação nos próximos três anos, principalmente para facilitar a mudança nas operações.
Os recentes avanços tecnológicos permitem que linhas de produção automatizadas sejam hoje rapidamente implantadas e reorganizadas. Nesse sentido, destaca-se o uso de robôs colaborativos, robôs móveis autônomos (AMRs) e sistemas digitais, que permitem, por exemplo, montagens personalizadas e alterações rápidas de produção.
Entre as tendências estão também as células modulares e individuais de produção capazes de suportar uma maior variação de produtos e oferta quando comparadas à montagem linear. O modelo permite modificar ou até mesmo substituir células individuais sem a necessidade de interrupções de produção. Assim, é possível iniciar processos em pequena escala e aumentar o ritmo de produção, adicionando ou reimplantando células de acordo com as mudanças de demanda.
Outro bom exemplo é o uso de simulações de gêmeos digitais no planejamento de linhas automatizadas para otimizar layouts de produção. Isso já acontece na fábrica da Volvo em Curitiba, onde um aplicativo de realidade aumentada está contribuindo para reduzir o tempo e os custos de engenharia para orientar o projeto das células, ao mesmo tempo em que melhora a colaboração em toda a empresa.
A animação sobreposta para virtualizar e simular a operação do robô ajudou a equipe de engenharia da montadora a identificar problemas como cabos e componentes que podem precisar de testes adicionais e alterações de design. Para áreas com pouco espaço para novos equipamentos, como nas instalações da oficina de pintura da Volvo, foi possível otimizar o projeto da célula com base no espaço disponível e em outros fatores, como parte da segurança.
A automação robótica pode ser, portanto, a resposta às atuais – e futuras – exigências e necessidades do mercado. Afinal, eficiência e flexibilidade serão os pilares para reorganização das operações da indústria neste momento de profundas transformações e em escala global.
Fonte: Ana Carolina Saito
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