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É preciso ter propósito no trabalho ou basta pagar as contas?



Por: Luiz Eduardo Serafim*

Muita gente vem filosofando sobre a eterna questão do sentido do trabalho. Um artigo recente que li trazia resposta acolhedora, com a possibilidade de que talvez o trabalho pudesse ser "só um trabalho", sem precisar ser dotado de grandes significados.

É a ideia sem romantismo e bem pragmática de que seria razoável trabalhar simplesmente para pagar contas e buscar realizações em outras dimensões da vida.

Quando vi o artigo impulsionado por uma popular rede social, havia diversos comentários endossando esse ponto de vista. Apesar de compreender a intenção saudável de se oferecer uma moldura de distensão psicológica para todos aqueles que se sentem pressionados pelo dilema, é preciso respeitosamente discordar e gritar alto para despertar as pessoas.

O trabalho jamais deve ser "só um trabalho para pagar contas".

Frase atribuída ao pintor Pablo Picasso expressa orientação bem pertinente:

"Nunca deixe uma dicotomia governar sua vida, uma dicotomia em que você odeia o que faz para construir o seu tempo livre. Encontre uma situação em que seu trabalho lhe dê tanta felicidade quanto seu tempo livre."

É essencial caminharmos na direção  do propósito e da felicidade também em nossa vida profissional. No entanto, o conceito de propósito vem sendo desvirtuado desde quando o autor Simon Sinek popularizou a importante mensagem no mundo corporativo em um dos Ted Talks mais vistos da história.

Créditos: iStockPhoto

Propósito ganhou ligação equivocada com a ideia de um "chamado divino" para mudar o mundo, um objetivo e vocação únicos que precisam ser descobertos, um destino inexorável a ser trilhado. Em tempos contemporâneos, esse conceito de propósito não faz sentido algum.

Propósitos são objetivos a serem atingidos que nos orientam em relação a nosso comportamento futuro. Para mim, sempre precisam ser pensados no plural. Eu não tenho um único objetivo a alcançar, uma missão maiúscula aqui na Terra, uma transformação isolada que pretendo realizar no mundo. A cada etapa de minha vida, tenho diversos objetivos, grandes e pequenos, simples e ambiciosos.

Propósitos também não são necessariamente rígidos, permanentes, estáticos. Eles são mutantes ao longo da nossa jornada.

Somos seres multitemáticos, com muitos talentos, potenciais a serem desenvolvidos, estimulados e aplicados em diversas áreas de interesse. Podemos ficar uma vida inteira numa mesma empresa, numa mesma área, com brilho nos olhos, aprendendo, criando e nos adaptando às mudanças contínuas.

Por outro lado, é comum e natural que tudo desbote para muitos de nós depois de algum tempo, nos levando a mudar para novos ares, carreiras, organizações, com maior frequência. E ainda tem gente que se envolverá em diversos papéis, experimentando várias jornadas simultâneas ao mesmo tempo.

Tenho longa carreira como executivo numa mesma empresa, atuando em muitas áreas diferentes e tocando projetos diversos, com elevado sentimento de autorrealização, mas nunca quis me limitar a este único papel intraempreendedor em companhia global. Sempre mantive atividades paralelas como palestrante, professor, escritor, músico e membro voluntário de organizações sociais, todas com enorme significado, plenas de propósitos diversos.

A história brasileira traz muitos exemplos de pessoas multipotencialistas que se realizaram e impactaram o mundo em diferentes sintonias paralelas.

Créditos: iStockPhoto

Paulo Vanzolini, famoso sambista paulistano, era também renomado zoólogo e dirigiu o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. O ator Marcos Palmeira se enveredou para a agricultura sustentável há muitos anos na região serrana do Rio de Janeiro.

Já há casos em que as pessoas mudam complemente sua trajetória. Lídia Brondi deixou de ser atriz para atuar como psicóloga há muitos anos. Minha amiga Letícia Massula teve grandes impactos atuando como advogada por décadas, mas recomeçou em novo e feliz ciclo como cozinheira.

Não nascemos para fazer uma única coisa. Não atendemos a "chamados". Não precisamos nos pressionar para encontrar suposto caminho único para o qual teríamos sido designados pelo universo.

Temos potenciais para serem aplicados em muitas áreas, em centenas de profissões possíveis, em contextos e mercados distintos, em geografias diversas.

As forças que estão presentes dentro de mim como curiosidade, criatividade, colaboração e integridade precisam estar vivas e manifestadas dentro de qualquer trabalho no qual me envolva. As minhas habilidades de escrever, imaginar, falar em público, criar visões de futuro, trabalhar em grupo, entre outras, precisam encontrar oportunidades para serem aplicadas.

Se aceitamos ficar em emprego que apenas paga as contas, sem ter oportunidade de aprender coisas que nos interessem, sem possibilidades de exercitar nossos talentos, sem desenvolver relações humanas positivas, desengajados de qualquer sentido, estamos nos condenando a uma situação violenta de desequilíbrio e estagnação, muito nociva para a saúde mental e bem-estar do ser humano.

É claro que podemos aguentar uma situação ruim por algum tempo, segurando rojões para colocar comida na mesa, cuidar da saúde da família, bancar estudos.

Mas isso não deve ser condição permanente. Não caia nessa besteira de achar que trabalho é só um trabalho e que a felicidade estará em outros lugares. Bem-estar e propósito devem estar presentes em todas as dimensões da vida, inclusive no trabalho.

Créditos: iStockPhoto

É importante perceber quando é hora de partir quando nada está contribuindo para a expansão humana e bem-estar, mesmo que a remuneração seja boa. É necessário manter atenção para perceber se o trabalho já desbotou e não nos move mais. É fundamental checarmos se o trabalho nos proporciona oportunidades de desenvolvimento e boas emoções, além do salário.

O desafio começa no autoconhecimento, movimento vital em direção a si mesmo para ter um entendimento de si próprio. Neste caminho, buscamos identificar nossas principais forças, reconhecemos nossos maiores talentos e habilidades, e, então, tratamos de escalá-los para jogar em muitas possibilidades de trabalhos e atividades com sentido dentro de nossas narrativas.

Buscarmos um estado mental de engajamento com o trabalho, investindo energia e direcionando esforços para alcançarmos objetivos com os quais nos identificamos e obtermos o prazer da realização e crescimento, é condição fundamental para nossa saúde e felicidade!

Assim, está tudo muito claro: nada de ficar por muito tempo em trabalho que só paga contas!

(artigo publicado originalmente em 11/01/2023 no Administradores)

Luiz Eduardo Serafim é Diretor-Executivo do World Creativity Day, além de empreendedor, autor e palestrante especialista em criatividade, inovação e liderança. Clique aqui para conferir mais artigos do colunista no Administradores.

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