Brasil tem a maior taxa de transmissão de covid-19 desde maio
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Pela margem de erro das estatísticas britânicas, a taxa pode estar entre 0,86 e 1,45. Logo, 100 pessoas infectadas passam o novo coronavírus para no mínimo 86 e, no máximo, 145 pessoas. Segundo os analistas, a ritmo de contágio acima de 1,00 significa que a doença está avançando, uma vez que um doente infecta mais de uma pessoa. Por outro lado, o RT abaixo de 1,00 indica uma diminuição da velocidade da taxa de transmissão.
Segundo o Imperial College, o Brasil passou cinco semanas seguidas, entre setembro e outubro, com o ritmo de contágio abaixo de 1,00. A menor taxa foi registrada há duas semanas (0,68), que coincidiu com a semana na qual houve um problema no sistema de dados do Ministério da Saúde (MS) que, segundo o órgão, atrasou a atualização da pandemia. Na segunda-feira da semana passada (16) o RT ficou em 1,10. Segundo o MS, até esta segunda (23), o Brasil tem 6.087.608 casos confirmados e 169.485 mortes pela covid-19. O país vive uma alta da média de mortes nas últimos dias, chegando a 496 por dia segundo o consórcio de veículos de imprensa, em análise feita com base nos dados oficiais das secretarias estaduais de saúde, quantidade 50% maior que a média há duas semanas.
O mesmo consórcio registrou o aumento considerável na média diária de mortes em três regiões: Sudeste (118%), Centro-Oeste (42%) e Sul (19%). Os dados batem com as estatísticas do Observatório de Síndromes Respiratórias da Universidade Federal da Paraíba, que analisa o ritmo de contágio nos Estados brasileiros. Segundo a UFPB, quatro dos seis Estados com as maiores taxas são de Sudeste ou Sul: São Paulo (1,32), Paraná (1,28), Santa Catarina (1,25) e Rio de Janeiro (1,23).
Alerta nos hospitais e testes
Com o maior ritmo de contágio do Brasil e na região onde a média móvel de mortes mais cresce, São Paulo tem até hoje 1.210.625 casos confirmados e 41.276 mortes pela covid-19. Os dados apresentados na semana passada pelo Governo já chamavam a atenção: casos, internações e mortes vinham de duas semanas de aumento e já eram os maiores em dois meses de registro. O que mais preocupa a equipe de saúde do governador João Doria é a ocupação dos leitos de UTI do Estado. Nos números apresentados ontem pelo Governo, a taxa estava em 47,4% no Estado e 55,2% na Grande SP. Já é uma ocupação 17% maior que a semana passada, que por sua vez era 18% maior do que a anterior. “O vírus não estaciona, ele acelera quando não há cuidado. Nada contra os momentos de alegria, mas estamos perdendo vidas todos os dias no Brasil. Aqueles que querem conviver devem se proteger”, discursou Doria na última quinta-feira (19).
Apesar de minimizar algumas vezes o risco da segunda onda no Estado ao garantir que a nova crise sanitária europeia tem relação com o clima mais frio no hemisfério norte nesta época do ano, a equipe de saúde de Doria tomou providências frente aos aumentos. Na semana passada, o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, informou a publicação de um decreto que impede a desmobilização de qualquer leito de UTI ou enfermaria destinados à covid-19 para outros atendimentos de todos os hospitais, públicos e privados, e suspende novos agendamentos de cirurgias eletivas. O objetivo é reservar leitos para a covid-19 frente a uma possível alta ainda maior.
“Precisamos entender como essa curva se comportará. Esse decreto nos dá tempo para analisar e tomar medidas mais definitivas”, justificou Gorinchteyn. Nesta segunda-feira (23), o secretário voltou a dizer que “algumas informações ainda estão sendo inseridas no sistema para que possamos analisá-las e, aí sim, instituir medidas de maneira mais efetiva”. O Governo marcou uma entrevista coletiva para reclassificação das regiões paulistas de acordo com o plano de retomada econômica e possível anúncio de novas medidas restritivas para o dia 30 de novembro, um dia após o segundo turno das eleições municipais.
São Paulo não é caso isolado. A taxa de ocupação de leitos de UTI para covid-19 pelo Sistema Único de Saúde (SUS) chegou a 92% na cidade do Rio de Janeiro no domingo. É a maior ocupação desde 12 de junho deste ano, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, informou a Agência Brasil. A ocupação dos leitos de tratamento intensivo, que chegou a baixar para 59% em meados de agosto, estava na faixa dos 80% desde o início de novembro. Além disso, o Ceará, cujo sistema de saúde também se viu pressionado no primeiro semestre, também vive um repique. De acordo com o jornal O Povo, a taxa de ocupação de leitos intensivos em Fortaleza chega a 56%, mas no interior a situação é pior. Na região conhecida como Sertão Central, onde Canindé é uma cidade de referência, a taxa de ocupação é de 90%.
Fonte: Diogo Magri - El País
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