00:03 - A honestidade da rubra mulher
Por aqui, atenções voltadas predominantemente para a sucessão de Eduardo Cunha, cuja eleição ocorrerá na tarde desta quarta. Na ausência de um nome de consenso, com candidaturas se multiplicando (registros vão até o meio-dia de amanhã), favorito é Rogério Rosso, do PSD.
Ironicamente, Rosso seria o nome de Cunha para o cargo. Ruborizamo-nos.
Se há, por um lado, motivos para crer que uma eventual vitória de Rosso seria positiva para o governo no lado da articulação - e isso é fundamental para levar à frente a agenda Temer -, por outro já se vê o nome do parlamentar mencionado em investigações. Tudo muito vago, é verdade.
O problema é se essa suspeição pairar sobre ele como se viu em relação a nomes do ministério de Temer. É preciso que a mulher de César pareça honesta. Em nosso contexto político, talvez isso seja mais importante do que efetivamente ser honesta.
O Congresso precisa funcionar.
01:15 - Não existe voto grátis
Congresso precisa funcionar, e tudo indica que a votação da LDO - e, consequentemente, a aprovação da meta fiscal de 2017 - ficará para agosto.
Para depois da votação do impeachment, será? Longe de mim pensar que há aí qualquer tentativa de chantagem.
Não virá de graça. A depender do relator, a aprovação custará R$ 2,4 bilhões em emendas. Governabilidade não é maná que cai do céu: preparemos o cheque.
E por falar em cheque, o mesmo relator acena com a possibilidade de o governo contar com a volta da CPMF para melhorar a receita.
Quanta generosidade com o nosso bolso, não é mesmo?
02:04 - A dificuldade de fazer o simples
Tenho poucas certezas na vida, dentre as quais i) a morte, ii) os impostos e iii) a tradicional pergunta sobre dividendos em toda reunião da Apimec.
Com a primeira, lido bem; com a segunda, lido mal.
A terceira me causava certo cansaço nos meus primeiros anos de mercado financeiro - áureos tempos em que o todo mundo acreditava que o futuro havia finalmente chegado para o Brasil e o céu era o limite para o crescimento de qualquer negócio, até fábrica de vela.
À medida, entretanto, que meus primeiros cabelos brancos vão brotando e minha coluna começa a se curvar, percebo enfim a sabedoria de todos aqueles serenos senhores de cabeças alvas que só querem saber do dividendo.
Não me entendam errado: acredito na possibilidade de se ganhar dinheiro no mercado de diversas maneiras, a depender do momento. Gosto de apostas com riscos assimétricos a meu favor. Mas não menosprezo, jamais, oportunidades de retornos adequados e razoavelmente previsíveis num horizonte longo de tempo.
E acredito, sinceramente, que até mesmo quem tem muito apetite por risco deveria destinar parte de seu patrimônio a empresas que pagam - e continuarão pagando - bons dividendos.
É simples, funciona e nos ajuda a dormir bem em qualquer cenário. Adoro as Vacas Leiteiras. Tenho certeza de que você também gostará.
03:06 - Dissonância cognitiva (I)
Mundo afora, persiste ânimo com a possibilidade de estímulos fiscais. Uma suposta coordenação entre Shinzo Abe e outros líderes mundiais ajuda a dar asas à imaginação. Commodities para cima e todo mundo imaginando que o aperto monetário pelo Fed está mais distante.
Mercado reagiu bem a Marg.. - ops, digo, a Theresa May. Sua posição enfática quanto ao resultado do referendo - "Brexit significa Brexit e vamos fazer o melhor disso" ajudou a valorizar a libra. Engraçado pensar como, semanas atrás, algo assim seria justificativa para precisamente o contrário.
Curiosamente, do outro lado do Canal da Mancha o tom vai se tornando mais grave: nas palavras do economista-chefe do Deutsche Bank, "a Europa está extremamente doente e precisamos lidar com esse problema rapidamente ou haverá um acidente". Parte do "lidar com esse problema" é constituir um fundo para capitalizar bancos do velho continente; coisa da ordem de 150 bilhões de euros. O fato de o diagnóstico e parte da solução serem anunciados precisamente pelo economista do Deutsche, instituição sobre cuja saúde pairam preocupações, é digno de atenção especial.
Engraçado como, até semana passada, todo mundo e seus respectivos irmãos acreditavam que o Reino Unido só teria a perder em sair da UE.
O jogo virou?
04:11 - Dissonância cognitiva (II)
O mesmo tom que predominou na imprensa - internacional e local - quanto ao Brexit parece ser empregado para anunciar um iminente esgotamento da paciência dos mercados com o Governo Temer.
Curioso constatar o descompasso entre essa leitura e a euforia dos mercados com acenos de reformas importantes e o que promete ser um relevante ciclo de privatizações. A ponto de se cogitar a criação de novas empresas já com a intenção de privatizá-las - me refiro aqui às loterias eletrônicas. É como se tivéssemos um Investment Banking dentro do governo - o que é bom para o contribuinte, faço questão de enfatizar.
Da mesma forma, soa exótico que esse suposto cansaço do mercado seja diagnosticado no mesmo momento em que bolsa renova altas e o BC intervém - de novo hoje, aliás - para conter a valorização do real ante a entrada de estrangeiros.
Alguém está errado nessa história.
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